segunda-feira, 29 de junho de 2009

O PARÁ ANTES DA EXPANSÃO DA BORRACHA

Muitos grupos da elite paraense demonstravam surpreendente relutância, ou até mesmo aversão em relação ao desenvolvimento da mais importante fonte de exportação da província. A elite regional não parecia estar satisfeita com esses sinais de prosperidade.
Julgavam que a expansão por ser um recurso presumivelmente esgotável, parecia frágil alicerce para o povoamento e desenvolvimento a longo prazo.
A capital após o movimento da cabanagem entra em uma fase de declínio, já que o movimento causa a destruição em várias áreas agrícolas. Com isso o agricultor que era o modo de subsistência da capital perde força, já que os grandes proprietários, na sua maioria estrangeira são expulsos de suas terras. Com o enfraquecimento da agricultura e não havendo como se retomar com as culturas, a extração da borracha torna-se viável, já que a mesma já era extraída há algum tempo, mas com o declínio da agricultura, essa atividade torna-se cada vez mais abrangente na região.
O grande ponto de desequilíbrio foi à cabanagem com a explosão da revolta houve uma debandada dos funcionários que causou a extrema escassez de mão-de-obra no setor agrário. Isso resultou por causa das inevitáveis perdas humanas oriundas de meia década de conflitos violentos.
O afrouxamento dos controles sociais e político que caracterizou os anos de guerra civil aceleraram a formação de uma população rural semi-autônoma. Após a revolta as propriedades agrícolas estavam totalmente destruídas e não havia uma solução aparente para sua recuperação, pois as instalações forma destruídas e a mão-de-obra havia desaparecido, pois mitos morreram e a maioria dos escravos aproveitou para fugir. Essa decadência foi um dos fatores que impulsionou a exploração das seringas.
Os seringais das terras devolutas eram de livre acesso a quem desejasse e com a alta dos preços da borracha na década de 1840, muitos caboclos e ex-escravos começaram a dedicar parte de seu tempo a extração.
Os paraenses de prestígio continuaram a protestar contra o “emprego quase exclusivo dos braços na extração e fabrico da borracha”, argumentando que isso fomentava a criminalidade e tornava o setor agrícola fadado à decadência. Porém esse protesto tinha não só o intuito agrícola, mas também o interesse em adquirir a posse de terras para a extração da borracha, e assim acabar com os pequenos produtores. Em relação à exploração das terras devolutas, exploradas em sua grande maioria por caboclos, gerou em 1862 do então presidente Araújo Brusque o seguinte comentário: “os seringais mais produtivos que hoje se conhece encontram-se em terras não reclamadas ou em terras da nação”, segundo ele essas terras deveriam ser entregues a pessoas capazes e inteligentes e não a seringueiros nômades e comerciantes de origem estrangeira.
Com o crescimento dos seringais surgiu uma nova atividade na Amazônia, foram os mascates que cruzavam os rios negociando vários produtos. Esse comerciante não era bem visto nem pelos proprietários dos seringais, nem pelos pequenos comerciantes das vilas existentes. Os grandes proprietários os consideravam inferiores e só negociavam com grandes comerciantes de Belém, porém esses mascates eram na sua maioria funcionários dos das grandes casas comercias. No caso dos pequenos comerciantes, eles se sentiam prejudicados pela concorrência imposta a eles, tendo em vista que ficavam localizados em vilas e pequenos cidade a espera dos compradores enquanto os mascates iam até eles.
Embora o Pará continuasse a frente na produção da borracha até anos avançados da década de 1880, a parcela que lhe cabia na produção total da região decaiu rapidamente de 1870 em diante. Enquanto, durante os primeiros anos, apenas uns poucos municípios paraenses haviam respondido pela maior parte da borracha produzida, na década de 1870 a extração da borracha havia se espalhado para oeste, no baixo Xingu e no baixo Tapajós, no Pará, e, de maneira ainda mais impressionante, no Amazonas nas zonas ricas em seringueiras dos rios Madeira, Solimões, Piruá e Juruá. Embora muito distantes do mercado exportador de Belém, a densa concentração de seringueiras ao longo desses rios e a relativa facilidade com que todos eles, com exceção do Madeira, podiam ser navegados pela crescente frota de barcos a vapor no Amazonas.
O centro de gravidade da economia da borracha pode ter se deslocado do Pará para o Amazonas na década de 1870, mas era em Belém que quase toda a borracha amazônica continuava a ser armazenada, acondicionada e vendida para exportação.
O Pará era tanto produtor de borracha bruta, como pequeno fabricante de utensílios de borracha. Em alguns casos, o seringueiro moldava sapatos e garrafas com o lates no próprio seringal. Já em 1865 só se exportavam como produto acabado quantidades desprezíveis de borracha e, menos de uma década depois, todo setor manufatureiro do Pará desaparecera.
Devido à crônica escassez de mão-de-obra, capital e experiência técnica, era extremamente improvável que a manufatura local de produtos de borracha pudesse sobreviver sem substancial injeção de investimentos de assistência estrangeira, especialmente no momento em que a borracha deixou de ser simples curiosidade e passou a ser um elemento básico do processo industrial. Mas, como era de se esperar, os países consumidores preferiam desenvolver suas próprias indústrias da borracha, acabando por relegar a Amazônia ao papel de fornecedor de borracha bruta.

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