sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CONTEÚDO DO 1º SEMESTRE 2012

CEGB 2

HISTÓRIA

1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO

PROFESSOR WALCIR ORTIZ

JANEIRO DE 2012

ALTA IDADE MÉDIA

Os Reinos Bárbaros

A Formação dos Reinos Bárbaros

A decadência do Império Romano do Ocidente foi acelerada pela invasão de povos bárbaros. Bárbaros era a denominação que os romanos davam áqueles que viviam fora das fronteiras do Império e não falavam o latim. Dentre os grupos bárbaros destacamos os:

Germanos: de origem indo-européia, habitavam a Europa Ocidental. As principais nações germânicas eram: os vigiados, ostrogodos, vândalos, bretões, saxões, francos etc.

Eslavos: provenientes da Europa Oriental e da Ásia, compreendiam os russos, tchecos, poloneses, sérvios, entre outros.

Tártaro-mongóis: eram de origem asiática. Faziam parte deste grupo as tribos dos hunos, turcos, búlgaros, etc.

Os Germanos

Entre os povos bárbaros, os germanos foram os mais significativos para a formação da Europa Feudal.

A organização política dos germanos era bastante simples. Em época de paz eram governados por uma assembléia de guerreiros, formada pelos homens da tribo em idade adulta. Essa assembléia não tinha poderes legislativos e suas funções se restringiam à interpretação dos costumes. Também decidia as questões de guerra e de paz ou se a tribo deveria migrar para outro local.

Em época de guerra, a tribo era governada por uma instituição denominada comitatus. Era a reunião de guerreiros em torno de um líder militar, ao qual todos deviam total obediência. Esse líder era eleito e tomava o título de Herzog.

Os germanos viviam de uma agricultura rudimentar, da caça e da pesca. Não tendo conhecimento das técnicas agrícolas, eram seminômades, pois não sabiam reaproveitar o solo esgotado pelas plantações. A propriedade da terra era coletiva e quase todo trabalho era executado pelas mulheres. Os homens, quando não estavam caçando ou lutando, gastavam a maior parte de seu tempo bebendo ou dormindo.

A sociedade era patriarcal, o casamento monogâmico e o adultério severamente punido. Em algumas tribos proibia-se até o casamento das viúvas. O direito era consuetudinário, ou seja, baseava-se nos costumes.

A religião era politeísta e adoravam as forças da natureza. Os principais deuses eram: Odim, o protetor dos guerreiros; Tor, o deus do trovão; e Fréia, a deusa do amor. Acreditavam que somente os guerreiros mortos em combate iriam para o Valhala, uma espécie de paraíso. As Valquírias, mensageiras de Odin, visitavam os campos de batalha, levando os mortos. As pessoas que morriam de velhice ou doentes iriam para o reino de Hell, onde só havia trevas e muito frio.

Os Reinos Bárbaros

Devido à expansão do Império, a partir do século I, os romanos mantinham contato pacífico com povos bárbaros, principalmente os germanos. Muitos desses povos migraram para o Império Romano e chegaram a ser utilizados no exército como mercenários.

Porém, no século V, os germanos foram pressionados pelos belicosos hunos.

Os hunos, de origem asiática, deslocaram-se em direção à Europa e atacaram os germanos, levando-os a fugir. Estes, acabaram por invadir o Impéio Romano, que enfraquecido pelas crises e guerras internas, não resistiu às invasões e decaiu. No antigo mundo romano nasceram vários reinos bárbaros.

Dos reinos bárbaros que se formaram na Europa, os principais foram:

Reinos dos Visigodos: situado na península ibérica, era o mais antigo e extenso. Os visigodos ocupavam estrategicamente a ligação entre o Mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico, que lhes permitia a supremacia comercial entre a Europa continental e insular.

Reino dos Ostrogodos: localizam-se na península Itálica. Os ostrogodos se esforçaram para salvanguardar o patrimônio artistico-cultural de Roma. Restauraram vários monumentos, para manter viva a memória romana. Conservaram a organização político-administrativa imperial, o Senado, os funcionários públicos romanos e os militares godos.

Reino do Vândalos: o povo vândalo atravessou a Europa e fixou-se no norte da África. Nesse reino houve perseguição aos cristãos, cujo resultado foi a migração em massa para outros reinos, provocando falta de trabalhadores, e uma diminuição da produção.

Reino dos Suevos: surgiu a oeste da península Ibérica e os suevos viviam da pesca e da agricultura. No final do século VI, o reino foi absorvido pelos visigodos, que passaram a dominar toda península.

Reino dos Borgúndios: os borgúndios migraram da Escandináva, dominaram o vale do Ródano até Avinhão, onde fundaram o seu reino. Em meados do século VI, os borgúndios foram dominados pelos francos.

Reino do Anglo-Saxões: surgiu em 571, quando os saxões venceram os bretões e consolidaram-se na região da Bretanha.

No processo de invasão e formação dos reinos bárbaros, deu-se ao mesmo tempo, a "barbarização" das populações romanas e a "romanização" dos bárbaros. Na economia, a Europa adotou as práticas econômicas germânicas, voltada para a agricultura, ode o comércio era de pequena importância.

Apesar de dominadores, os bárbaros não tentaram destruir os resquícios da cultura romana; ao contrario, em vários aspectos assimilaram-na e revigoraram-na. Isso se deu, por exemplo, na organização política. Eles que tinham uma primitiva organização tribal, aodtaram parcialmente a instituição monárquica, além de alguns mecanismos e normas de administração romana. Muitos povos bárbaros adotaram o latim com língua oficial. Os novos reinos converteram-se progressivamente ao catolicismo e aceitaram a autoridade da Igreja Católica, à cabeça da qual se encontrava o bispo de Roma.

Com a ruptura da antiga unidade romana, a Igreja Católica tornou-se a única instituição universal européia. Essa situação lhe deu uma posição invejável durante todo o medievalismo europeu.

Reinos Germânicos e Império Carolíngio

Germanos: Migrações e Invasões

Os germanos dividiam-se em vários povos com grandes diferenças culturais entre si. Eram entre outros, os anglos, os saxões, os visigodos, os ostrogodos, os vândalos, os francos, os suevos, os burgúndios, os lombardos, os alamanos e os hérulos. As poças informações que se tem desses povos são ainda do período do Império Romano em textos escritos pelos próprios romanos.

A organização social baseava-se na família, tendo no pai a figura central que exercia poder sobre a esposa e filhos. Calcula-se que quando havia cerca de cem famílias numa região, formava-se ali uma aldeia, na qual as decisões eram tomadas em assembléias de homens livres. Os lideres escolhidos para chefiar os soldados nas guerras deram origem aos reis e ao poder hereditário.

Além do rei, que tinha poderes militar, político, havia nobres, homens livres comuns, ex-escravos e escravos (prisioneiros de guerra, nascido de famílias escravas ou escravizados por causa de dívidas).

O direito era costumeiro, isto é, as leis não eram escritas, mas baseadas nos costumes. A religião era politeísta e as divindades, associadas aos elementos da natureza (raio, trovão, vento, Sol etc.). Os sacerdotes tinham além da função religiosa, o poder de punir os criminosos e o dever de manter a ordem durante as assembléias.

A economia dos germanos que se tornaram sedentários poucos séculos antes de invadirem o Império Romano baseava-se nas trocas comerciais entre as aldeias. Cultivavam trigo, cevada, centeio, legumes e plantas, cujas fibras eram usadas na tecelagem.

Formação dos reinos germânicos

O ultimo imperador romano foi deposto em 476 por Odoacro chefe dos germanos hérulos. Esse episódio ficou conhecido como a queda do Império Romano Ocidental e é tido, tradicionalmente como o marco divisório entre a Antiguidade e a Idade Média. Com a dissolução do Império Romano do Ocidente, diversos poços germânicos dominaram diferentes regiões da Europa.

A vida na Europa Ocidental recém dominada pelos germanos transformou-se bastante, mas também muitas características do Império Romano foram mantidas.

A produção econômica, por exemplo, conservou práticas romanas já conhecidas pelos soldados germânicos que lutavam no exército de Roma. As cidades, porém, perderam sua importância econômica.

A religião cristã dos romanos foi adotada por boa parte dos germanos. O latim, preservado principalmente na linguagem escrita, e as germânicas, que continuaram a ser faladas, deram origem às línguas inglesa, alemãs e neolatinas (Frances, português, espanhol, italiano entre outras). Como todas as línguas, elas continuam em processo de transformação até os dias de hoje.

Os Merovíngios

Os reinados dos primeiros chefes francos—Faramond (cerca de 419 até cerca de 427) e Clódio (cerca de 427 até cerca de 447)—parecem ser mais mito do que factos, e sua relação com a dinastia merovíngia permanece incerta.

Gregório menciona Clódio como o primeiro rei que começou a conquista da Gália tomando Camaracum (hoje Cambrai) e expandiu a fronteira até o rio Somme. Isso provavelmente levou algum tempo; Sidônio relata que Aetio (ou Aécio) surpreendeu os francos e os rechaçou (provavelmente por volta de 431). Esse período marca o início de uma situação que ía durar por muitos séculos: os francos germânicos se tornaram líderes sobre um número cada vez maior de subalternos galo-romanos.

Em 451, Aetio apelou para seus aliados germânicos em solo romano para o ajudar a repelir uma invasão dos hunos. Os francos sálios responderam ao chamado, os ripuários lutaram em ambos os lados visto que alguns deles viviam fora do império. As fontes de Gregório de maneira hesitante identificam Meroveu como rei dos francos e possivelmente um filho de Clódio. A Meroveu sucedeu Childerico I, cujo túmulo foi encontrado em 1653 contendo um anel que o identificou como rei dos francos.

O filho de Childerico, Clóvis, participou de uma campanha que consolidou os vários reinos francos na Gália e na Renânia, que incluiu derrotar Siágrio em 486. Essa vitória encerrou o controle romano na região de Paris.

Na Batalha de Vouillé (507), Clóvis, com a ajuda dos burgúndios, derrotou os visigodos, expandindo seu reino em direcção ao oeste até as montanhas dos Pireneus.

Expansão dos francos entre 481 e 814.

A conversão de Clóvis à Cristandade Romana Trinitária, depois do seu casamento com a princesa burgúndia Clotilde em 493, pode ter ajudado a aumentar sua posição aos olhos do Papa e outros reis cristãos ortodoxos. A conversão de Clóvis sinalizou a conversão do resto dos francos. Porque eles podiam prestar culto junto com seus vizinhos católicos, os francos recém-cristianizados tiveram uma aceitação muito mais fácil da população galo-romano local do que os arianos, visigodos, vândalos ou burgúndios. Os merovíngios dessa forma construíram o que com o tempo se provou ser o mais estável dos reinos sucessores no oeste.

A estabilidade, no entanto, não figurou como parte do cotidiano da era merovíngia. Embora a violência casual existisse até certo ponto no final dos tempos romanos, a introdução da prática de feudo de sangue para obter justiça levou à percepção de um aumento do desrespeito à lei. Perturbações do comércio ocorreram, e a vida cívica se tornou cada vez mais difícil, o que levou a uma sociedade mais e mais localizada e fragmentada baseada em vilas auto-suficientes. O conhecimento da leitura e escrita praticamente desapareceu fora das igrejas e mosteiros.

Os chefes merovíngios aderiram à prática germânica de dividir a terra entre os seus filhos, e a divisão, reunificação e re-divisão de territórios com frequência resultava no assassinato e guerra entre as famílias líderes. Então embora Clóvis tenha expulsado os visigodos da Gália, na ocasião de sua morte, em 511, seus quatro filhos dividiram o reino entre eles, e pelos dois séculos seguintes seus descendentes compartilharam a posição de rei

A área franca se expandiu ainda mais sob os filhos de Clóvis, com o tempo cobrindo a maior parte da França atual, mas incluindo áreas a leste do rio Reno também, como a Alâmania (hoje sudoeste da Alemanha) e Turíngia (a partir de 531). A Saxônia, no entanto, permaneceu fora do reino franco até ser conquistada por Carlos Magno séculos mais tarde.

Depois da reunificação temporária dos reinos separados sob Clotário I, as terras francas foram divididas novamente em 561 em Nêustria, Austrásia, e Borgonha, que haviam sido absorvidas pelos reinos francos por meio de uma combinação de casamentos políticos e força dos exércitos.

Em cada reino franco o mordomo do palácio servia como superintendente do estado. Uma série de mortes prematuras começando com a de Dagoberto I em 639 levou a uma série de reis menores de idade. Por volta do virar do século VIII, isso permitiu aos mordomos austrasianos consolidar o poder em sua própria regência hereditária, estabelecendo a fundação para uma nova dinastia: seus descendentes, os Carolíngios.

Os Carolíngios

O reinado dos carolíngios começa tradicionalmente com a deposição do último rei merovíngio, com consentimento papal, e ascensão em 751 de Pepino, o Breve, pai de Carlos Magno. Pepino sucedeu seu próprio pai, Carlos Martel, como mordomo do palácio do reino franco reunido e re-erigido composto de partes anteriormente independentes.

Pepino reinou como um rei eleito. Embora tais eleições ocorressem raramente, uma regra geral da lei germânica declarava que o rei dependia do apoio de homens líderes. Esses homens reservavam o direito de escolher um novo líder se eles sentissem que o velho não podia liderá-los numa batalha proveitosa. Embora mais tarde na França o reinado tenha se tornado hereditário, os reis do Sacro Império Romano provaram-se incapazes de abolir a tradição eleitoral e continuaram como reis eleitos até o término formal do império em 1806.

Pepino solidificou sua posição em 754 ao entrar numa aliança com o Papa Estêvão III, que apresentou ao rei dos francos uma cópia da forjada "doação de Constantino" em Paris e numa magnífica cerimônia em Saint-Denis ungiu o rei e sua família e os declarou patricius Romanorum ("protetores dos romanos"). No ano seguinte Pepino cumpriu sua promessa ao papa e recuperou o exarcado de Ravenna, que havia caído recentemente nas mãos dos lombardos, e o devolveu, não para o imperador bizantino de novo, mas para o papado. Pepino doou as áreas reconquistadas em volta de Roma para o Papa, traçando a fundação para os estados papais na "doação de Pepino" que ele colocou sobre o túmulo de São Pedro. O papado teve bons motivos para esperar que a monarquia franca refeita iria prover uma base de poder deferente (potestas) na criação de uma nova ordem mundial, centrada no Papa.

Com a morte de Pepino em 768, seus filhos, Carlos e Carlomano, mais uma vez dividiram o reino entre si. No entanto, Carlomano retirou-se para um mosteiro e morreu pouco depois, deixando o reino todo para seu irmão, que mais tarde se tornou conhecido como Carlos Magno ou Karl, der Große (Carlos, o Grande), uma figura poderosa, inteligente e modestamente letrada que se tornou uma lenda para história posterior tanto da França quanto da Alemanha. Carlos Magno restaurou uma balança de igualdade entre o imperador e o papa.

De 772 em diante, Carlos Magno derrotou os saxões, anexando seu território ao reino franco. Esta campanha transformou a conversão forçada de povos vizinhos em prática comum entre governantes cristãos não-romanos. Missionários católicos de origem franca, junto com outros da Irlanda e Inglaterra anglo-saxão, entraram em terras saxãs desde meados do século VIII, aumentando os conflitos com os Saxões que resistiam aos esforços missionários e incursões militares. O principal adversário de Carlos Magno pelo lado saxão, Widukind, aceitou o batismo em 785 como parte de um acordo de paz , porém outros líderes saxões continuaram a resistir. Com sua vitória em Verden no ano de 787, Carlos ordenou o extermínio de milhares de prisioneiros saxões pagãos. Depois de diversas revoltas, os saxões sofreram sua derrota definitiva em 804. Isso ampliou o domínio Franco em direção ao leste até o rio Elba, feito que o Império Romano tentou apenas uma vez, sendo derrotado na Batalha da Floresta de Teutoburgo (9 a.C.). Para melhor cristianizar os saxões, Carlos fundou diversas dioceses, entre as quais a de Bremen, Munique, Paderborn, e Osnabrück.

Paralelamente (773774), Carlos conquistou os lombardos e pode incluir o norte da Península Itálica em sua esfera de influência. Ele renovou a doação do Vaticano e prometeu ao papado a continuidade da proteção franca.

Em 788, Tassilo, dux (duque) da Baviera rebelou-se contra Carlos que esmagou a revolta e incorporou a Baviera ao seu reino. Isso não apenas ampliou sua influência como reduziu drasticamente o poder dos Agilolfings (família de Tassilo), outro clã importante entre os Francos e potenciais rivais. Até 796, Carlos continuou a expandir seu reinado na direção do sudoeste, chegando a atual Áustria e partes da Croácia.

O reino de Carlos Magno sobreviveu a seu fundador e cobriu boa parte da Europa Ocidental de 795 até 843 quando o Tratado de Verdun o dividiu entre seus netos: os francos centrais, governados por Lotário (verde), os francos orientais, governados por Luís o Germânico (amarelo), e Carlos, o Calvo, líder dos francos ocidentais (roxo).

Carlos estabeleceu um domínio que ia dos Pirenéus a sudoeste (depois de 795 incluiu uma área do Norte da Península Ibérica, a chamada Marca Hispânica), incluía quase toda a França de hoje (mas não a Bretanha) e avançava para o leste sobre quase todo o território da moderna Alemanha, incluindo o norte da península Itálica e o que hoje é a Áustria. Na hierarquia da Igreja, bispos e abades procuravam apoio no palácio real. Carlos emergia como o grande líder da cristandade ocidental .

No dia do Natal, em 800, o Papa Leão III coroou Carlos como "imperador dos romanos" em Roma numa cerimônia apresentada como se fosse uma surpresa (Carlos Magno não desejava ficar em dívida com o bispo de Roma), um jogada papal adicional numa série de gestos simbólicos que vinham definindo os papéis mútuos da auctoritas papal e da potestas imperial. Embora Carlos Magno, em respeito ao ultraje bizantino , preferiu o título "Imperador, rei dos francos e dos lombardos", a cerimônia reconheceu formalmente o império franco como sucessor do romano (ocidental) (embora apenas a "doação" forjada dava ao papa autoridade política para fazer isso). Depois de um protesto inicial quanto a usurpação, em 812, o imperador bizantino Miguel I Rangabe reconheceu Carlos Magno como co-imperador. A coroação deu a legitimidade a primazia carolíngia entre os francos. Os otonianos mais tarde ressuscitaram essa conexão em 962.

Com a morte de Carlos Magno em 28 de janeiro de 814 em Aachen, ele foi enterrado em sua própria Capela do Palácio em Aachen.

Carlos Magno teve vários filhos, mas apenas um sobreviveu a ele. Esse filho, Luís o Pio, sucedeu ao pai como governante de um império unido. Mas herança total permaneceu uma questão de acaso, em vez de intenção. Quando Luís morreu em 840, os carolíngios aderiram ao costume de partilhar a herança, e o Tratado de Verdun em 843 dividiu o império em três:

· O filho sobrevivente mais velho de Luís, Lotário se tornou imperador e governante dos francos centrais. Seus três filhos por sua vez dividiram esse reino entre eles em Lotaríngia, Burgúndia e Itália (do norte). Essas áreas iriam mais tarde desaparecer como reinos separados.

· O segundo filho de Luís, Luís, o Germano, se tornou rei dos francos orientais. Essa área formou o núcleo do mais tarde Sacro Império Romano, que eventualmente evoluiu para se tornar a Alemanha moderna. Para uma lista de sucessores, veja a lista dos reis e imperadores alemães.

· Seu terceiro filho Carlos, o Calvo se tornou rei dos francos ocidentais; essa área se tornou a fundação da França. Para seus sucessores, veja a lista de monarcas franceses.

Legado

Embora tenha sido um acidente histórico, a unificação da maior parte do que é agora a Europa ocidental e central sob um único soberano proporcionou um terreno fértil para a continuação do que é agora conhecido como a Renascença carolíngia. Apesar das mortíferas campanhas militares quase constantes que o império carolíngio suportou, a extensão do reino franco e do cristianismo romano sob uma área tão grande proporcionou a unidade fundamental por todo o império. Cada parte do império carolíngio se desenvolveu de forma diferente; o governo e cultura franca dependiam muito dos regentes individuais e seus objetivos. Esses objetivos mudaram de maneira tão fácil quanto às mutáveis alianças políticas entre as famílias líderes francas. No entanto, essas famílias, incluindo os carolíngios, todas compartilhavam das mesmas crenças e ideias de governo básicas. Essas ideias e crenças tinham suas raízes em antecedentes que se baseavam tanto na tradição romana quanto na germânica, uma tradição que começou antes da ascensão carolíngia e continuou até certo ponto mesmo depois da morte de Luís, o Pio e seus filhos.

Quando os historiadores modernos (do final do século XVIII em diante) remontam a um exemplo de Europa unificada, eles se voltam ao império carolíngio e não ao império romano. Se o império carolíngio durou (ou, pode-se dizer, se ele sequer existiu como império "propriamente dito") num sentido geográfico ou político não tem influência substancial nessa visão. O modelo de vários reinos individuais (ou regna, para lhe dar os nomes corretos) sob um regente ressoa de maneira clara hoje. Pode-se argumentar que as divisões de Verdun ainda forneceram as bordas gerais da Alemanha, França e Itália, mas dificilmente alguém pode supor que elas proporcionaram qualquer tipo de divisão cultural. Elas não podem dividir o legado germânico-romano cristão começado pelos carolíngios.

ORIGEM DO FEUDALISMO

Com a decadência e a destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V d.C. (de 401 a 500), em decorrência das inúmeras invasões dos povos bárbaros e das péssimas políticas econômicas dos imperadores romanos, várias regiões da Europa passaram a apresentar baixa densidade populacional e ínfimo desenvolvimento urbano. A partir do século V d.C., entra-se na chamada Idade Média, mas o sistema feudal (Feudalismo) começa na França e passa somente a vigorar em alguns países da Europa Ocidental a partir do século IX d.C., aproximadamente.

O esfacelamento do Império Romano do Ocidente e as invasões bárbaras, ocorridas em diversas regiões da Europa, favoreceram, sensivelmente, as mudanças econômicas e sociais que vão sendo introduzidas e que alteraram completamente o sistema de propriedade e de produção característicos da Antiguidade principalmente na Europa Ocidental. Essas mudanças acabam revelando um novo sistema econômico, político e social que veio a se chamar Feudalismo. O Feudalismo não coincide com o início da Idade Média (século V d.C.), porque esse sistema começa a ser delineado alguns séculos antes do início dessa etapa histórica (mais precisamente, durante o início do século IV), consolidando-se definitivamente ao término do Império Carolíngio, no século IX d.C.

Em suma, com a decadência do Império Romano e as invasões bárbaras, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades levando consigo camponeses (com medo de serem saqueados ou escravizados). Já na Idade Média, com vários povos bárbaros dominando a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre os descendentes de nobres romanos, que eram donos de pequenos agrupamentos de terra. E com as reformas culturais ocorridas nesse meio-tempo, começou a surgir a idéia de uma nova economia: o feudalismo.

A Sociedade Feudal

Era esta mental e composta por três grupos sociais com status fixo, fundamentada na origem e nas funções das pessoas onde a mobilidade social era praticamente inexistente. Apresentava classes distintas:

Clero _ rezava pela salvação das almas dos homens. Eram também nobres.

Nobreza _ lutavam nas guerras (senhores feudais).

Camponeses _ constituídos pela maior parte da população camponesa,trabalhavam para produzir o necessário ao

sustento de todos. Dividiam-se em duas categorias:

Servos _ descendentes de antigos colonos romanos, de escravos ou pequenos proprietários rurais, produziam toda a riqueza feudal.

Vilões _ antigos proprietários livres, eram servos com menos deveres e mais liberdade, com obrigações quase sempre bem definidas por um contrato de trabalho e que não poderiam ser aumentadas segundo a vontade do senhor.

A estruturação do feudalismo se fez em meio a guerras contínuas, decorrentes das invasões dos bárbaros e de suas constantes disputas pelo poder. Foi nessas circunstâncias que se formou mais um grupo social, a da cavalaria, cujo ideal de honra, lealdade e heroísmo configuravam um mito – o do “protetor”, um invejado herói da época. Pertencer à cavalaria era a aspiração máxima do nobre na sociedade feudal.

A Política no Tempo do Feudalismo

Durante o feudalismo, o rei continuava existindo, só não governava. O poder político era descentralizado, pois cada senhor feudal possuía todos os poderes dentro do seu feudo. No conjunto dos senhores feudais (nobreza e clero) existia uma relação fundamentada na prática de retribuir serviços prestados com a concessão de terras.

A de suserania _ nobres que cediam a terra.

A de vassalagem _ aqueles que a recebiam.

A terra tinha grande importância na época feudal, em decorrência da escassez de moeda e de outras formas de riqueza.

Tributos e impostos da época

As principais obrigações dos servos consistiam em:

· Corveia: trabalho compulsório nas terras do senhor em alguns dias da semana;

· Talha: Parte da produção do servo que deveria ser entregue ao nobre

· Banalidade: tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do feudo, como o moinho, o forno, o celeiro, as pontes;

· Capitação: imposto pago por cada membro da família (por cabeça);

· Tostão de Pedro ou dízimo: 10% da produção do servo era pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local;

· Censo: tributo que os vilões (pessoas livres, vila) deviam pagar, em dinheiro, para a nobreza;

· Taxa de Justiça: os servos e os vilões deviam pagar para serem julgados no tribunal do nobre;

· Formariage: quando o nobre resolvia se casar, todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no casamento. Era também válida para quando um parente do nobre iria casar.

· Mão Morta: Era o pagamento de uma taxa para permanecer no feudo da família servil, em caso do falecimento do pai ou da família.

· Albermagem: Obrigação do servo em hospedar o senhor feudal.

Corveia

A corveia (do latim corrogare, exigir, através do francês corvée) é o trabalho gratuito que no tempo do feudalismo os servos e camponeses deviam prestar ao seu senhor feudal ou ao Estado durante três ou mais dias por semana, como previa o contrato de enfeudação.

Nas civilizações hidráulicas da Idade Antiga, como o Antigo Egito e a Mesopotâmia, a corvéia constituía-se no trabalho compulsório da população, imposto pelo Estado.

Seguiu sendo empregado nos feudos desde a Idade Antiga até o final da Idade Moderna, juntamente com a talha *Trabalhar de graça nas terras do senhor.

Talha

Durante o feudalismo, a talha era um tributo que era pago pelos vassalos para o custeio da defesa do feudo. Consistia de parte da produção realizada na unidade agrícola (feudo).

A talha Porcentagem da produção obtida do trabalho no manso servil que era para o Senhor Feudal.

Banalidade

Banalidades eram tributos do feudalismo pagos pelo servo para a utilização de bens de propriedade do senhor feudal, pela utilização de equipamentos e instalações do senhorio (celeiros, fornos, moinhos, pontes, etc.), pois o senhor feudal detinha todos estes equipamentos. Se o servo não pagar este banal, pode vir a ser condenado a pena de morte. As "banalidades" encontravam-se na reserva- parte do Domínio Senhorial.

Capitação

Capitação é o nome dado aos impostos que são pagos per capita (literalmente, "por cabeça"), cobrados em diversas épocas da história. Na época feudal era cobrado das famílias burguesas

Dízimo

Dízimo significa a décima parte de algo, paga voluntariamente ou através de taxa ou imposto, normalmente para ajudar organizações religiosas judaicas ou cristãs. Apesar de atualmente estar associada à religião, muitos reis na Antigüidade exigiam o dízimo de seus povos.

Taxa de Justiça

Taxa de justiça era a taxa que o servo ou o vilão pagava ao senhor feudal para que se fizesse justiça dentro do feudo. Quando o servo cometia uma infração, o senhor cobrava a taxa para que o julgamento acontecesse em um tribunal presidido pelo senhor ou seu representante.

Formariage

No feudalismo, os servos pagavam aos nobres (senhores) diferentes tributos e taxas. Uma delas era a formariage. Quando o senhor (nobre) resolvia se casar, todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no seu casamento (e ela também era válida para quando um parente do nobre se casasse).

Agricultura: a base da economia

A agricultura era a principal atividade econômica desse período. Considerando que os feudos constituíam-se em grandes extensões de terras e que, na medida do possível, procuravam se manter auto-suficientes, a agricultura se tornou uma atividade fundamental para suprir as necessidades imediatas daquela sociedade.

O servo dedicava parte do seu tempo à produção de sua subsistência. Em alguns dias da semana, por exemplo, os servos trabalhavam nas terras comuns, de onde retiravam o que necessitavam para sobreviver. Havia ainda a possibilidade de eventuais trocas de produtos difíceis de serem feitos, mas de que necessitavam.

A outra parte do tempo do trabalho do servo, em geral a maior parte, era dedicada à produção para o senhor. Nesse caso, o trabalho era realizado nas terras do senhor feudal e toda a produção lhe pertencia Essa produção mantinha as necessidades da corte e o excedente servia como moeda de troca para a obtenção de objetos que não lhes era possível produzir.

Embora em outros lugares como o Japão, Índia e a China, o feudalismo tenha outros componentes históricos, as relações sociais na produção feudal eram semelhantes.

A IGREJA MEDIEVAL

A Igreja Católica teve um papel unificador na Europa após a queda do Império Romano, pois ela era a única instituição organizada de alcance universal. Suas tendências principais foram:

§ a organização do cristianismo – a Igreja foi herdeira natural do império e dele assumiu a parte estrutural, mas não se identificando totalmente com ele;

§ aproximação com os poderes políticos - Estado e Igreja procurou reorganizar e unificar politicamente o ocidente;

§ ruptura com a sociedade laica;

§ tentativa de formar uma teocracia pontifica, embasado no agostinianismo político;

§ exercer uma influência marcante sobre o tempo histórico (seqüência cronológica), as relações sociais, estabelecendo normas sobre o caráter do casamento, valores culturais e mentais, ligado ao sistema de ensino.

Como era de se esperar o feudalismo também atingiu a Igreja que era proprietária de terras formando assim os feudos eclesiásticos com a proteção dos bens e de pessoas da Igreja. No período de gestação escolástico a sociedade ocidental vive um momento de estagnação em que a teologia era ensinada nas escolas de abadias e bispados por meio de obras de compilação e reprodução. Estes textos alimentavam a reflexão e limitavam a teologia à leitura e a discussão das Escrituras e a influência patrística ainda eram notadas. Entre os livros mais estudados estavam o Organon de Aristóteles, traduzido em parte, o Timeu, de Platão, os comentários de Porfírio e Boécio às obras desses filósofos, as obras de Cícero e de Sêneca e os textos dos Padres: Orígenes, Clemente de Alexandria, Santo Ambrósio, Pedro Lombardo e, de modo especial, Santo Agostinho, que, até o século XIII, dominou o pensamento medieval. À simples leitura comentada dos textos, acrescentou-se, com o tempo, a discussão, questio, e a elaboração de trabalhos e composições pessoais.

Num segundo momento entre os séculos X a XII começam a ocorrer mudanças significativas, tanto na sociedade como na Igreja e é neste período que florescem as universidades, ordens religiosas, movimentos de ordem mendicantes, comunas e corporações. As principais ordens medievais foram: os Beneditinos, Monges de Cluny, os Cistercienses, os Agostinianos e os Franciscanos. E a partir deste momento a teologia avança com aparecimento dos escritos aristotélicos que abrem as portas para a crítica do saber e da demonstração. “O pensamento pelo confronto, resultante da aproximação dialética de negação e afirmação, amadureceu nesta sociedade em mutação, caracterizada pela multiplicação dos intercâmbios”. Muito do que se dava como certo começou a ser questionado e a dialética gerou conflito entre tradicional e inovador.

Já no esplendor da escolástica as universidades passam a ser centros de intensa vida intelectual tendo nos professores teólogos o exercício da análise metódica e crítica e o raciocínio dialético. O profano começa a ser aceito. No plano do pensamento, estabelece-se a distinção entre crer e compreender, dá-se valor ao conhecer pelo conhecer.

A Igreja entendia toda a vida do cristão como culto e como oferta da vida a Deus (Rm 12,1). Ela dominava todos os âmbitos da vida das pessoas. Sua doutrina era a garantia de que Deus determinava a ordem do mundo, não se admitindo dúvidas. De posse de uma influência que se manifesta em todos os domínios, a Igreja como um corpo constituído, impõe suas diretrizes e dispõe de armas que embora sejam religiosas, implicam graves conseqüências de ordem social e política como a excomunhão e a interdição.

Heresias

Entre os séculos XII e XIII, o mundo medieval sofreu uma série de alterações que viriam a transformar de modo significativo o lugar a ser ocupado pela Igreja. Até a Alta Idade Média, o isolamento do meio rural oferecia grandes facilidades para que tal instituição religiosa se impusesse como a mais influente autoridade da época. Chegada a Baixa Idade Média, observamos que o reaquecimento das atividades comerciais e o desenvolvimento dos centros urbanos estabeleciam uma nova situação.

Nas cidades temos a formação de uma proeminente classe burguesa que abraçava valores e comportamentos que se distinguiam do discurso oficial cristão. Ao mesmo tempo, o contraste entre a vida luxuosa e desregrada de alguns clérigos e a situação de miséria de grande parte da população alimentava uma situação de distanciamento. Com o passar do tempo, alguns grupos e coletividades passaram a debater as atribuições da Igreja e o significado de uma vida regrada sob os moldes cristãos.

Foi nesse contexto que observamos o aparecimento das chamadas heresias medievais. O termo heresia, originário do grego, significa “escolher”. De tal modo, observamos que os movimentos heréticos de fato “escolhiam” a organização de concepções religiosas e visões de mundo que se diferiam do discurso há séculos reafirmado pela Igreja. Em alguns casos, algumas das heresias desse tempo chegavam ao ponto de abandonar a Igreja como intermediadora da relação entre Deus e os cristãos.

Em muitos casos, podemos perceber que alguns movimentos heréticos não surgiram de uma reflexão profunda sobre os textos cristãos ou do próprio dogma católico. Diversas heresias desse tempo adotaram o ascetismo e o desapego às coisas materiais como um modo de reafirmar, pela sacralização, a pobreza de várias pessoas que seguiam tais concepções. Vale lembrar que, na Idade Média, eram poucos aqueles que tinham condições de acessar o mundo letrado para debater questões de natureza teológica.

Por um lado, muitos compreendem que o aparecimento das heresias medievais serviu para desestabilizar a hegemonia constituída pela Igreja. Por outro, podemos ver que os movimentos heréticos tiveram grande importância para que a própria Igreja viesse a reavaliar o seu lugar enquanto instituição religiosa. Não por acaso, tais heresias contribuíram para que a Igreja tomasse ações de reforma e controle, nitidamente percebidas na criação das ordens mendicantes e do Tribunal da Santa Inquisição.

Crenças Básicas e Práticas da Igreja

Por toda a Era Medieval, a Igreja Católica Romana manteve o monopólio religioso do Ocidente europeu. Pertencer à Igreja era conseqüência automática do nascimento e não havia lei ou costume que permitisse a alguém renunciar a ela. A dominação espiritual da Igreja não se estendia à Rússia ou aos Bálcãs, que permaneciam no reino da Igreja Ortodoxa Oriental, mas em todo o resto da Europa alcançava até onde iam as fronteiras da própria civilização.

É impossível compreender o papel e a influência da Igreja Católica Romana na Era Medieval sem a compreensão de suas doutrinas religiosas básicas. Partiam elas da premissa de que a raça humana suporta enorme carga de pecado. Este, em parte, reside na herança que a humanidade recebeu da culpa de Adão; em parte, é considerado conseqüência dos maus atos dos indivíduos em suas próprias vidas, pois, embora Deus lhes tenha dado o conhecimento do bem e do mal e a liberdade de escolher entre ambos, sem a assistência divina os homens sempre sucumbem às tentações maléficas.

Tão grande é essa carga de pecado que os homens, por seus próprios e míseros esforços, nunca a podem expiar. Como, porém, Deus é tão misericordioso quanto justo, Ele mesmo possibilitou-lhes o perdão. Isso se verificou pelo sacrifício de Jesus Cristo, cuja morte ajudou a remir os pecados dos homens. Essa Redenção Divina, entretanto, não assegura aos homens a salvação; apenas torna possível que a obtenham. Para isso, homens e mulheres, individualmente, devem reconhecer seus pecados, arrepender-se e lutar para vencer a tentação de tornar a pecar. Para se ajudarem a fazê-lo, devem submeter-se à administração, pelos sacerdotes, dos sacramentos.

A Excomunhão e o Interdito

A arma que os papas utilizavam para pôr de joelhos soberanos seculares era a sentença de excomunhão. Esse severíssimo castigo podia ser imposto pelo Papa em qualquer parte do mundo e pelo bispo dentro de sua diocese, atingindo o pecador que recusasse fazer penitência de seus pecados e submeter-se à autoridade eclesiástica. Uma pessoa assim condenada estava cortada da comunidade cristã. Não podia entrar num templo nem receber os sacramentos e todos os cristãos estavam proibidos de tratar com ela. Tornava-se logo um pária, um leproso espiritual, cuja presença contagiava. Se morresse sem se arrepender, sua alma estava condenada a sofrer os tormentos do inferno até o fim dos tempos.

Só com grave risco podia um rei persistir em disputa com um Papa, quando este último recorria a essa arma. O próprio rei temeria por sua alma, se fosse excomungado. E, mesmo se quisesse desconhecer o perigo que sua alma corria, não podia ignorar a ameaça e seu poder secular. De fato, excomungado o rei, seus vassalos ficavam libertos dos juramentos que lhe haviam feito e muitas vezes isso era desculpa suficiente para que se rebelassem. Com o passar do tempo, todavia, essa arma demonstrou-se menos eficaz. Famoso o triunfo do Papa Inocêncio III sobre o Rei Filipe II, da França, que obrigou os subservientes bispos a anularem o seu primeiro casamento, para que pudesse tomar em segundas núpcias uma princesa dinamarquesa. O Papa revogou a anulação do primeiro casamento e ordenou que o rei deixasse sua nova mulher, em favor da primeira. Filipe fanfarreou, até que Inocêncio III lhe impôs a sentença de excomunhão. Então, Filipe cedeu, a fim de impedir uma rebelião de seus vassalos.

Outra arma que o Papa às vezes utilizava - assim como alguns bispos - era o Interdito. Essa sentença se impunha sobre uma comunidade inteira: aldeia, cidade, província ou mesmo todo um reino. Significava que os edifícios da Igreja ficariam fechados, nenhum ofício religioso se realizaria e nenhum sacramento se administraria, exceto os que, como a extrema unção, eram considerados essenciais à salvação da alma, quando estivesse iminente a morte. Às vezes, um bispo impunha tal sentença quando um de seus vassalos se rebelava contra ele. Ocasionalmente, o Papa a impunha - ou ameaçava fazê-lo - quando um rei desafiava a autoridade papal. Sua eficácia vinha do fato de que a punição afetava não só o governante, mas todos os que viviam em seu domínio; a população, aterrorizada com o insólito silêncio dos sinos das igrejas e horrorizada por ver os templos fechados, exerceria enorme pressão sobre o soberano para que se submetesse e, assim, a livrasse do castigo que, por culpa dele, sobre ela pesava.

O mais famoso interdito da Era Feudal foi o lançado sobre o reino da Inglaterra pelo Papa Inocêncio III, como conseqüência de uma disputa com o Rei João sobre a nomeação para o arcebispado de Cantuária. Esse interdito permaneceu em vigor por vários anos e só foi retirado quando João se submeteu humildemente.

As Ordens Religiosas

As múltiplas atividades da Igreja ficavam, ordinariamente, a cargo dos clérigos que faziam parte do clero secular. Caracteristicamente, portanto, o clero regular levava vida retirada do mundo exterior - mesmo dos negócios do governo da Igreja.

Na história do clero regular, a Era Feudal é pródiga pelo desenvolvimento de diversos grupos monásticos e pela fundação das novas ordens de frades mendicantes. Após os inícios do monasticismo, surgiram certas tendências que não haviam sido previstas e que produziram graves problemas. Leigos muitas vezes faziam dádivas a mosteiros, pois os monges eram tidos como possuidores de santidade superior, e gradualmente os mosteiros vieram, assim, a ter grandes e ricas posses de terras e outras riquezas. Forneciam estas uma receita que libertava os monges da necessidade de trabalhar na terra para sustentar-se. Os monges que pertenciam a mosteiros tão prósperos estavam ainda sujeitos ao voto de pobreza, pois a riqueza não lhes pertencia, mas aos conventos. Logo, porém, tornou-se difícil ver que espécie de sacrifício esse voto de pobreza envolvia, já que os monges viviam em conforto e abastança. Sem duvida, nem todos os mosteiros ficaram ricos, ainda que moderadamente; mas alguns dos que acumularam grandes dotes caíram vítimas de escandalosos abusos, notórios pela indolência, imoralidade e dissipação geral de seus membros.

Por outro lado, livres da necessidade de trabalhar, em alguns conventos os monges dedicaram-se à manutenção de escolas, bem como ao trabalho de copiar manuscritos, numa época em que todos os manuscritos, sagrados e profanos, eram produzidos em cópia pelos monges.

A Inquisição

Durante os primeiros séculos da Era Feudal, as heresias virtualmente desapareceram, por ser a vida intelectual dos "Tempos Obscuros" por demais fraca para produzir grandes disputas teológicas. Mas, na última parte da Era Feudal, apareceram várias heresias, algumas das quais se tornaram grave ameaça para a Igreja. Eram elas de duas espécies: heresias anticristãs, que atacavam as bases da religião cristã, e heresias anti-clericais que discutiam o papel tradicional do clero, embora não a fé cristã básica.

O evangelismo do séc. XIII aparece freqüentemente aliado a formas heterodoxas de religiosidade, determinando uma atitude de desconfiança por parte das autoridades da Igreja. Elemento comum a esses movimentos foi a afirmação extremada da auto-suficiência do leigo, como reação à autoridade avassaladora da hierarquia. De forma paradoxal, esse laicismo se prende historicamente a iniciativas da própria Igreja, durante a querela das investiduras: para fazer frente ao poderio do imperador, ela incentivara os fiéis a reclamarem o direito de participar nas eleições episcopais.

A mais famosa das heresias anticristãs foi a dos cátaros, ou albigenses. As mais importantes entre as heresias anti-clericais foram as dos valdenses, dos hussitas e dos lolardos.

A cristandade ocidental reagiu de três maneiras à ameaça representada pela heresia. De início, tentou liquidar o problema militarmente, quando em 1208 após ter sido assassinado o legado pontifício, Pedro de Castelnau, o papa Inocêncio III apelou à Cruzada, convocando os príncipes cristãos e garantindo aos que dela participassem os mesmos benefícios espirituais e temporais ligados à Cruzada de libertação da Terra Santa. Nessa campanha, os interesses políticos e econômicos tiveram nítida predominância. Ela terminou pela vitória dos cruzados, que logo se apoderaram dos territórios dos albigenses e dos senhores feudais que os protegiam. Mas o resultado não foi o esperado pelo papa, pois a heresia continuou a progredir: apoiava-se em causas religiosas e sociais bastante profundas. Depois, utilizou-se de pregadores para persuadir os hereges: foram escolhidos os monges cistercienses, de comprovado saber teológico, recebendo o título de legados pontifícios. Mas o êxito dessa pregação foi bastante limitado. Além de ter seus movimentos cerceados pela conivência dos senhores feudais, os prelados não conseguiam utilizar uma linguagem que realmente atingisse a população. Embora saíssem vitoriosos dos debates públicos, a heresia continuava seu caminho. Finalmente, o papa recorreu à pressão judicial, estabelecendo a Inquisição.

Essa instituição apareceu primeiro em 1203, quando o Papa Inocêncio III mandou especiais juízes papais "inquirirem" casos de heresia em certos locais em que os tribunais dos bispos pareciam incapazes de colocar-se à altura de sua rápida difusão. Essas novas cortes mostraram-se muito mais eficazes do que os tribunais episcopais efetivos e, em conseqüência, em 1229, foram transformadas em instituição permanente para o fim específico de lidar com a heresia.

Por essa razão, o Papado retirou dos bispos locais a responsabilidade principal de suprimir a heresia. Não só se estabeleceram novos tribunais, com juízes diretamente responsáveis ante o Papa, como os governos seculares foram induzidos a tomar medidas mais severas em apoio à campanha contra a heresia, e meios cruéis, incluindo o uso da tortura, se empregaram para descobrir hereges e infundir terror nos corações dos que se inclinassem a aderir a movimentos heréticos.

O auge da Inquisição papal foi alcançado nos princípios do séc. XIII. Os tribunais da França do Sul e da Itália do Norte eram os mais atarefados, mas a instituição espalhou-se pela maior parte do continente e os processos continuaram durante toda a Era Feudal, e principalmente na Espanha, onde tomou o nome de Santo Ofício, criou fortes raízes e tornou-se instituição poderosíssima, que deixou lúgubres recordações, a que estão ligados os nomes dos dois grandes inquisidores Torquemada e Ximenes.

Até cerca de 1500, a Igreja conseguiu reprimir pelo menos as manifestações públicas de todas as heresias importantes. A religião da Europa Ocidental, a Cristandade Romana, era uma unidade, na doutrina e na prática, assim como na sua organização hierárquica. No século que se seguiu à morte de João Huss, entretanto, as divergências religiosas se multiplicaram e se tornaram difíceis de suprimir. Com a obra de Martinho Lutero (1483-1546), que desafiou a autoridade doutrinária e eclesiástica da Igreja pouco após a passagem do séc. XVI, essa impressionante unidade foi destruída; a Cristandade ocidental partiu-se em muitos fragmentos.

As Cruzadas

Foram expedições militares organizadas com o apoio da igreja. Sua finalidade era combater os turcos seldjéidas que dominavam os lugares santos do cristianismo e impedia a peregrinação de cristãos a Terra Santa.

Também colaboraram para o movimento das Cruzadas:

O crescimento populacional que a Europa vivia desde o século XI _ negativos tanto para os servos, quanto aos nobres. Para os servos, porque a população servil aumentava e a produção não conseguia acompanhar o mesmo ritmo de crescimento, levando-os à extrema miséria e à fome. Quanto aos nobres, muitos ficaram sem terras, já que somente o filho primogênito tinha direito à herança.

A partir do século XI, quando o povo turco começa a se expandir e seu imperador, Aleixo I, pede ajuda à igreja que, interessada em unificar as igrejas católicas e ortodoxas, lança um apelo à cristandade para que se unisse, combatesse o santo Sepulcro. Foram, ao todo, oito grandes incursões. Vemos a Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096), Primeira Cruzada (1096-1099), Segunda Cruzada (1147-1149), Terceira Cruzada (1189-1192), Quarta Cruzada (1202-1204), Cruzada Albigense, Quinta Cruzada (1217-1221), Sexta Cruzada (1228-1229), Sétima Cruzada (1248-1250), em março de 1270, o rei Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada - Oitava Cruzada (1270), a qual fracassa e ele morre em combate.

Cruzada dos Mendigos _ foi uma cruzada não oficial. Foi massacrada pelos turcos.

Primeira Cruzada ou Cruzada dos Nobres _ atingiu o seu objetivo, pois Jerusalém foi tomada das mãos dos turcos.

Segunda Cruzada _ organizada em função da contra-ofensiva dos turcos, os quais haviam recuperado vários territórios perdidos.

A Terceira Cruzada ou Cruzada dos Reis _ o sultão Saladino tomou Jerusalém. Quem obteve vitória sobre os turcos foi o rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão, que assinou com o sultão um armistício, o qual permitia aos cristãos peregrinarem a Terra Santa. Além disso, a Inglaterra recebeu possessões entre Tiro e Jaffa.

Quarta Cruzada _ ataque ao Egito, país mais rico dos mulçumanos.

Quinta Cruzada _ Jerusalém continuava nas mãos dos turcos. Conseguiram ocupar apenas a importante cidade de Damieta, não atingiram os seus objetivos maiores. Foram derrotados pelos mulçumanos.

Sexta Cruzada _ chefiada por Frederico II, mesmo estando excomungado pelo papa tratou com o sultão Medelin a entrega de Jerusalém, com a condição de manter a mesquita de Omar e do culto mulçumano,

resultando assim no tratado de Jaffa que devolvia a cidade aos cristãos.

Sétima e Oitava Cruzada _ ocorreram por iniciativa do soberano francês, Luis IX. Na sétima cruzada Damieta, após alguns êxitos militares, o exército foi dizimado por uma epidemia de tifo. O rei foi feito

prisioneiro e, após resgate foi posto em liberdade. Na oitava cruzada, uma nova epidemia matou centenas de cruzados, inclusive o rei.

A BAIXA IDADE MÉDIA

No século X, os países europeus deixaram de ser ameaçados por invasões. Os últimos invasores - normandos e eslavos - já se haviam estabelecido respectivamente no Norte da França (Normandia) e no centro-leste da Europa (atual Hungria). O continente vivia agora a "paz medieval", a qual ocasionou mudanças que provocaram transformações no panorama europeu.

No período que vai do século XI ao século XV - a chamada Baixa Idade Média - percebe-se uma decadência no feudalismo. O aumento populacional provocado por essa fase de estabilidade levou à necessidade de mais terras, nas quais os trabalhadores desenvolveram técnicas agrícolas que lhes facilitaram o trabalho. Em torno dos castelos começaram a estabelecer-se indivíduos que comerciavam produtos excedentes locais e originários de outras regiões da Europa. A moeda voltou a ser necessária, e surgiram várias cidades importantes junto às rotas comerciais e marítimas e terrestres.

Ao mesmo tempo, a Igreja, fortalecida, promoveu expedições cristianizadoras ao Oriente - as Cruzadas - tentando recuperar a cidade de Jerusalém, então em poder do Império Islâmico. Durante dois séculos, as Cruzadas agitaram toda a Europa, pois além dos aspectos religiosos havia um impulso comercial muito grande.


A Expansão Comercial

As invasões que ocorreram do século V ao VIII e a desintegração do Império Romano do Ocidente levaram à formação de um sistema social, político e econômico adaptado às novas condições - o feudalismo. Da mesma forma, após o século X, novos fatos e circunstâncias determinaram outra grande transformação na Europa Ocidental.

Embora os feudos continuassem a produzir normalmente, com os servos trabalhando a terra e pagando suas obrigações aos senhores feudais, a produção era insuficiente para alimentar uma população em constante crescimento.

Nesse período, foram introduzidas várias conquistas técnicas que facilitaram em parte as atividades do campo, como o arado e outros instrumentos agrícolas de ferro, moinhos de vento e novas maneiras de se atrelarem os animais, de modo a permitir que eles fossem utilizados à plena força. Também a substituição do boi pelo cavalo, como animal de tração, trouxe vantagens, já que o cavalo é um animal mais ágil e com a mesma força do boi.

Apesar disso, o pedaço de terra cultivado era muito pequeno, o que gerava uma tendência à expansão do espaço agrícola para além dos limites dos feudos e das aldeias. Com o mesmo objetivo ocupavam-se também bosques e florestas.

Ao mesmo tempo, essa população que aumentava também requeria produtos de outra natureza: tecidos, instrumentos de trabalho, utensílios domésticos, entre outros. Alguns indivíduos (vilões) se especializavam na produção de artesanato ou na atividade comercial, surgindo então os artesãos e mercadores que comercializavam esses produtos e os eventuais excedentes agrícolas.

Alguns deles receberam permissão do senhor feudal para concentrarem-se junto a castelos, mosteiros e igrejas, dando origem aos chamados burgos, núcleo das futuras cidades. Por essa razão, seus habitantes passaram a ser conhecidos como burgueses, uma nova categoria social que se dedicava ao artesanato e ao comércio de mercadorias.

Um fato relacionado com essa evolução foi o surgimento das Cruzadas, ocorridas nos séculos VI a XIII, que tiveram grande influência nesse panorama, aumentando as possibilidades de comércio da Europa e do Oriente.

A Importância das Cruzadas para as rotas comerciais.

Quando se denunciou na Europa que os muçulmanos maltratavam os peregrinos cristãos que chegavam à Terra Santa, iniciou-se o movimento cruzadista, que recebeu esse nome devido à cruz que usava em seus estandartes e vestuário os que dele participavam.

Convocadas primeiramente pelo papa Urbano II, em 1095, na França, as Cruzadas foram, então, expedições de cristãos europeus contra os muçulmanos ocorridas durante os séculos XI a XIII. A missão dos cavaleiros cristãos era libertar a região da Palestina, que na época fazia parte do Império Islâmico.

Além dessa motivação religiosa, entretanto, outros interesses políticos e econômicos impulsionaram o movimento cruzadista:

A Igreja procurava unir os cristãos do Ocidente e do Oriente, que haviam se separado em 1054, no chamado Crisma do Oriente, surgido a partir daí a Igreja Ortodoxa Grega, liderada pelo patriarca de Constantinopla;

Havia uma camada da nobreza que não herdava feudos pois a herança cabia apenas ao filho mais velho. Assim, os nobres sem terra da Europa Ocidental queriam apoderar-se das terras do Oriente;

Os comerciantes italianos, principalmente das cidades de Gênova e Veneza, desejavam dominar o comércio do Mar Mediterrâneo e obter alguns produtos de luxo para comercializarem na Europa;

Outros grupos populacionais marginalizados tinham interesse em conquistar riquezas nas cidades orientais.

Oito Cruzadas foram organizadas entre 1095 e 1270, que apesar de obterem algumas vitórias sobre os muçulmanos, não conseguiram reconquistar a Terra Santa.

Essas expedições envolveram desde pessoas simples e pobres do povo até a alta nobreza, reis e imperadores, tendo havido mesmo uma Cruzada formada apenas por crianças. Dezenas de milhares de pessoas uniam-se sob o comando de um nobre e percorriam enormes distâncias, tendo de obter alimentação e abrigo durante o percurso. A maioria antes de chegar ao destino era massacrada em combates.

Em 1099, Jerusalém foi conquistada, mas um século depois foi tomada novamente pelos turcos muçulmanos, não tendo sido jamais recuperada. No entanto, os europeus conseguiram reconquistar alguns pontos do litoral do Mar Mediterrâneo, restabelecendo o comércio marítimo entre a Europa e o Oriente.

O contato dos europeus com os povos orientais - bizantinos e muçulmanos - fez com que eles começassem a apreciar e a consumir produtos como perfumes, tecidos finos, jóias, além das especiarias, como eram chamadas a primeira, a noz-moscada, o cravo, o gengibre e o açúcar.

No século XII, como conseqüência imediata das Cruzadas, inicia-se a expansão comercial na Europa e, com ela, o crescimento das cidades e a decadência do trabalho servil, típico do feudalismo.

As Rotas Comerciais e a Feiras

A expansão comercial, a partir da reabertura do Mar Mediterrâneo, beneficiou principalmente as cidades italianas de Gênova e Veneza. Os comerciantes dessas cidades passaram a monopolizar o comércio de especiarias, comprando-as em portos orientais de Constantinopla, Alexandria e Trípoli, para, através do Mediterrâneo, revendê-las no mercado europeu.

Mas no norte da Europa, junto as Mar do Norte e ao Mar Báltico, também se formaram regiões de intenso comércio, servidas em parte delas cidades italianas, que as atingiam tanto pro mar como por terra. Era a região de Flandres, produtora de tecidos, onde se destacava a cidade de Bruges, e a região do Mar Báltico, que tinha como importantes centro Hamburgo, Dantzig e Lübeck, que ofereciam mel, peles, madeira e peixes vindos de regiões próximas.

Para contatar esses pontos, estabeleceram-se diferentes rotas comerciais. A rota marítima ligava as cidades italianas a importantes centros comerciais do norte da Europa. Já a rota terrestre também ligava as cidades italianas à movimentada região de Flandres, mas atravessava toda a França.

Nos cruzamentos dessas grandes rotas comerciais com outras menores, que uniam todos os pontos da Europa, surgiram as feiras, grandes mercados abertos e periódicos, para onde se dirigiam comerciantes de várias partes do continente. Protegidos pelos senhores feudais, que lhes cobravam taxas de passagem e permanência, os comerciantes fixavam-se por dias e semanas em algumas regiões, oferecendo mercadorias, como tecidos, vinhos, especiarias e artigos de luxo orientais. As feiras mais famosas foram as da região de Champagne, na França.

O desenvolvimento comercial surgido no século XII, fez com que o dinheiro voltasse a ser necessário.

Porém, com em cada região cunhavam-se moedas de diferentes valores, apareceram os cambistas, pessoas que conheciam os valores das moedas e se incubem de trocá-las. Posteriormente, tornando-se as relações mais complexas, surgiram os banqueiros, que guardavam o dinheiro dos comerciantes e forneciam-lhes empréstimos mediante a cobrança de juros. São dessa época os sistemas de cheques e as letras de câmbio, que facilitavam as transações comerciais feitas a distância, utilizados até hoje.

O Ressurgimento das Cidades

Muitas cidades européias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos nobres. Essas cidades chamavam-se burgos. Por motivos políticos, os "burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam frequentemente o apoio dos reis que, muitas vezes, estavam em conflito com os nobres. Em Bruges, por exemplo, conta-se que certa vez um servo escapou da comitiva do conde de Flandres e fugiu por entre a multidão. Ao tentar reagir, ordenando que perseguissem o fugitivo, o conde foi vaiado pelos "burgueses" e obrigado a sair da cidade. Desta maneira, o servo em questão tornou-se livre.

Com a expansão comercial desenvolveram-se ainda mais esses burgos, que haviam aparecido em volta de castelos, mosteiros e igrejas, além de outros, surgidos nas rotas comerciais, no litoral e à margem de rios. Sua população, como já vimos, era composta basicamente de artesãos e comerciantes, que ganhavam cada vez mais importância, em função de sua riqueza e de seu número.

Os artesãos dedicavam-se à fabricação de tecidos, instrumentos de ferro, de couro, e de muitos outros materiais. Suas oficinas, que funcionavam com as portas abertas, serviam igualmente para vender as mercadorias diretamente, sem intermediários.

Com o rápido crescimento do comércio e do artesanato nos burgos, a concorrência entre mercadores e artesãos aumentou bastante. Para regulamentar e proteger as diversas atividades surgiu às corporações. No início eram formados apenas por mercadores autorizados e exercer seu trabalho em cada cidade. Posteriormente, com a especialização dos diversos artesãos, apareceram as corporações de ofício, que tiveram grande importância durante a Baixa Idade Média: corporações de padeiros, de tecelões, de pedreiros, de marceneiros etc.

Todas as corporações reuniam os membros de uma atividade, regulando-lhes a quantidade e a qualidade dos produtos, o regime de trabalho e o preço final. Procurava assim eliminar a concorrência desleal, assegurar trabalho para todas as oficinas de uma mesma cidade e impedir que produtos similares de outras regiões entrassem nos mercados locais.

Dessa maneira, as corporações de ofício determinavam também as relações de trabalho. Em cada oficina havia apenas três categorias de artesãos.

Mestres, que comandavam a produção, sendo donos de oficina, dos instrumentos de trabalho e da matéria-prima;

Oficiais ou companheiros, que eram trabalhadores especializados a serviço dos mestres, recebendo em troca um salário. Tornavam-se mestres após realizar uma obra que provasse sua capacidade e habilidade no ofício;

Aprendizes, jovens que aprendiam o ofício trabalhando, durante anos, e recebendo do mestre apenas casa e comida até poderem tornar-se companheiros.

Os comerciantes também procuravam organizar-se em corporações para manter o mercado comerciantes de diferentes cidades se associavam, formando uma liga. A mais famosa foi a Liga Hanseática, que reunia 80 cidades alemãs e que controlava comercialmente o norte da Europa.

Com o amplo desenvolvimento mercantil e artesanal e o conseqüente aumento de importância da classe dos burgueses, a antiga organização feudal, composta por nobres improdutivos e servos presos à terra, já não era mais adequada.

Os senhores feudais passaram a ganhar com o comércio, pois cobravam dos comerciantes taxas de passagem e de estabelecimento em seus feudos. A mão-de-obra servil declinava, pois, além de um grande número de trabalhadores agrícolas ter sido desviado para as Cruzadas (século XI e XII), muitos servos fugiram para dedicar-se às atividades urbanas. Interessados no aumento da produção e em maiores lucros, os senhores feudais liberaram os servos do trabalho obrigatório. Alguns senhores passam a permitir que os servos vendam seus produtos nas feiras e nas cidades, desde que lhes paguem uma quantia em dinheiro. Outros ainda começaram a se utilizar de lavradores assalariados, pagos por jornada, chamamos jornaleiros.

Pouco a pouco, o poder dos senhores feudais diminuiu, assim como a submissão das cidades às suas leis e impostos. Alguns dos mais importantes comerciantes e mestres-artesãos passaram a organizar-se num conselho, conhecido como comuna. Eram eles que administravam as cidades, cobrando taxas e impostos de seus moradores. Foram essas comunas burguesas que, a partir do século XII, passaram a organizar a luta pela autonomia das cidades. Ela foi sendo conquistada aos poucos, ou de forma violenta, quando se armava e derrotava o senhor feudal da região, ou de forma pacifica, ao comprar a independência da cidade, recebendo a carta de franquia do senhor feudal, que dava ampla autonomia aos núcleos urbanos.

A vitória desses movimentos comunais refletia a importância cada vez maior da burguesia, fato que iria afetar diretamente os acontecimentos dos séculos seguintes.

As Corporações de Ofício

Essas associações corriam em cidades que apresentavam mais de 10 mil habitantes e reuniam indivíduos que desempenhavam as mesmas atividades na sociedade. Elas estabeleciam os preços dos produtos gerados por pessoas que exerciam um mesmo ofício, além de qualidade, quantidade e margem de lucro. Mas havia algumas variações. Somente artigos de primeira necessidade, como era o caso de pão, vinho, cerveja e cereais, que tinham seus preços regulamentados pelas Corporações de Ofício. Produtos como ferro e carvão tinham liberdade para determinação do preço.

As Corporações de Ofício eram ambientes também de aprendizado do ofício e de estabelecimento de uma hierarquia do trabalho. A própria organização interna das Corporações de Ofício era baseada em uma rígida hierarquia, composta por Mestres, Oficiais e Aprendiz.

Os Oficiais passavam um tempo exercendo o que foi aprendido. Para chegar à condição de Mestre era preciso passar por uma prova e pagar uma taxa. O rigor podia variar nas regiões, mas ao chegar mais perto do fim da Idade Média apresentava-se cada vez mais difícil conquistar o posto de Mestre. Os membros mais ricos passaram a ter um domínio sobre as corporações e a ascensão acabou ficando restrita praticamente aos familiares.

Já os Mestres eram os donos das oficinas, das ferramentas, das matérias-primas e do conhecimento. A posição de Mestre era muito gratificante socialmente e economicamente e por isso tão almejada.

Nas atividades das Corporações de Ofício não ocorria à sobreposição de ofícios. Cada organização cuidava e desenvolvia apenas suas atividades típicas.

As Sujas e Apertadas Cidades Medievais

Na baixa Idade Média, houve a rápida multiplicação do número de cidades, nas quais se exerciam atividades comerciais, manufatureiras e também artísticas. As cidades eram guarnecidas por muralhas que serviam para protegê-la das invasões de nobres e bandidos. Seus habitantes haviam conseguido desvincular parcialmente do controle dos senhores feudais, adquirindo certos direitos e liberdades que atraíam grande número de camponeses. Essa imigração aumentou em demasia a população das cidades, tornando necessária a destruição posterior reconstrução das muralhas, a fim de ampliar o espaço urbano. Esse procedimento, no entanto, só era acessível aos grandes centros; nas demais cidades, construíram-se casas e jardins até mesmo no alto das largas muralhas.

Assim, dentro dos limites cercados das cidades, os terrenos eram caríssimos e procurava-se aproveitar cada centímetro. As construções, em geral de madeira, eram colocadas umas às outras, e os andares superiores eram projetados sobre as ruas, que já eram estreitas, tornando-as ainda mais sombrias. O perigo de incêndio era constante.

Esse incontrolável crescimento demográfico dificultava a observância de padrões de higiene e de conforto. As condições sanitárias eram péssimas: o lixo era despejado nas ruas e sua coleta ficava a cargo das eventuais chuvas; até que isso ocorresse, formavam-se montes de detrito, resolvidos por cães e porcos. A água dos rios e poços que abasteciam a cidade era freqüentemente contaminada, ocasionando constantes surtos de tifo.

Em todo o século XIV e até meados do século XV, a Europa enfrentou uma série de circunstâncias que afetaram profundamente a vida de sua população. Mudanças climáticas trouxeram vários anos seguidos de muita chuva e frio, o que causou o extermínio de animais e plantações, levando a um longo período de fome; a peste negra, originária do Mar Negro e transmitida por ratos, dizimou milhões de europeus já enfraquecidos pela fome.

Além disso, a violência gerada pela Guerra do Cem Anos fez eclodirem revoltas populares que ceifaram outras tantas vidas.

As precárias condições urbanas agravaram ainda mais os problemas gerados por essas crises, pois só a peste negra, propiciada pelas más condições de higiene, fez a Europa perder mais da metade da sua população.

Peste Negra

Enfraquecida pela fome, enorme parcela da população européia tornou-se vítima de moléstias contagiosas como a peste negra (1347-1350), epidemia trazida do Oriente por um navio genovês contaminado.

A moléstia provocava uma infecção pulmonar, que geralmente levava a morte. Desconhecendo-se remédio contra ela, os doentes contaminados eram isolados para evitar novos contágios.

A peste negra espalhou-se rápido, ocasionando grande epidemia, houve sucessivos surtos durante o século XIV. Calcula-se que um terço da população européia tenha morrido vítima da doença.

Guerra dos Cem Anos (1337-1453)

Conflito entre ingleses e franceses, que teve como causa a sucessão dinástica e a disputa pela rica região de Flandres, onde se desenvolvia a manufatura de lã.

A Guerra dos Cem Anos foi uma sequência de combates com diversas interrupções. Em períodos diferentes, ingleses e franceses obtiveram vitorias significativas. Por fim, o exército Frances conseguiu expulsar os ingleses de quase todos os territórios da França.

Revoltas Populares

A Jacquerie foi uma revolta camponesa que ocorreu no Norte de França entre 28 de Maio e 24 de Junho de 1358, durante a Guerra dos Cem Anos. A designação deriva de Jacques Bonhomme, expressão idiomática francesa, de conotação paternalista, que designava genericamente um camponês e que posteriormente foi usada pejorativamente, equivalendo a "joão-ninguém".

Jacques Bonhomme foi o apelido dado pelo cronista medieval Jean Froissart a Guillaume Cale (também chamado Guillaume Caillet, Karle ou Cale), o líder da revolta.

A revolta iniciou-se de forma espontânea, reflectindo a sensação de desespero em que viviam as camadas mais pobres da sociedade, depois da Peste Negra, numa altura em que a França se encontrava num vazio de poder e à mercê das companhias livres, bandos de mercenários renegados que vagueavam pelo país.

As elites acabaram por esmagar a revolta em menos de um mês, matando, no processo, cerca de 20.000 homens, o que viria a contribuir para o agravamento do problema demográfico do país.

A palavra "Jacquerie" passou a ser sinônimo de rebelião camponesa e, por séculos, a nobreza viveu sob o temor de uma repetição do episódio. Na memória popular, a "Jacquerie" é vista como uma série de massacres feitos pelos camponeses contra a nobreza. Na realidade, porém, os servos rebeldes estavam mais preocupados com a pilhagem, a comida e a bebida dos castelos do que com o assassinato de seus ocupantes. Frequentemente, se esquece que padres, artesãos e pequenos mercadores ocasionalmente se juntaram aos camponeses durante estas rebeliões.

Antecedentes

A situação política e social em França, nos meados do século XIV, era caótica. O país fora gravemente afectado pela epidemia de Peste Negra (1348), que custara a vida de aproximadamente um terço da população.

A doença atacou todas as classes sociais mas sobretudo dizimou os camponeses, comprometendo a produção agrícola, o que por sua vez causou fome e aumento de preços.

Em 1356, ainda na ressaca da epidemia, França perdeu a Batalha de Poitiers frente a Inglaterra de forma desastrosa. O condestável de França e seus dois marechais, bem como uma fatia importante da nobreza, perderam a vida no confronto, mas pior, o rei João II, o Bom, seu filho mais novo Filipe de Valois e muitos outros foram feitos prisioneiros e levados pelo Príncipe Negro.

Todos estes personagens importantes deviam pagar um resgate pela sua libertação. O resgate do rei era uma fortuna que arruinava o país. Para além do peso económico, a falta do soberano lançou o país num vazio de poder, entregue à luta entre Carlos, o Delfim, herdeiro de João II e a burguesia de influência crescente.

Para além de todos os problemas internos, o campo era assolado por bandos de mercenários, renegados e expropriados que pilhavam e devastavam aldeias e populações. A protecção dos camponeses contra os malfeitores era de responsabilidade do senhor nobre, que detinha as terras, mas nesta altura a nobreza estava igualmente despopulada, em razão da peste e das mortes em combate, e arruinada pelos impostos e resgates, sendo incapaz de prestar o auxílio necessário.

A revolta

Ressentidos contra a falta de proteção e desencantados com o estatuto do nobre depois das derrotas humilhantes de Crécy e Poitiers, os camponeses revoltaram-se contra a classe dominante.

A rebelião começou a 28 de Maio de 1358 na aldeia de Saint-Leu-sur-Oise, depois de uma reunião de camponeses. Os ânimos exaltaram-se, a indignação contra a classe nobre subiu de tom. Os homens reuniram as armas que podiam e invadiram a casa do senhor local, assassinaram a família e incendiaram a propriedade. A violência propagou-se às aldeias vizinhas e, dias depois, o motim era generalizado, envolvendo milhares de camponeses em fúria.

O cronista Jean Froissart registou mais de 150 propriedades destruídas em Coucy, Soissons, Amiens e Laon, sem que houvesse intervenção contrária aos camponeses. Em vez de reagir, os senhores locais fugiram para as cidades próximas com as famílias, abandonando casas e bens à pilhagem. O clero foi também afectado e alguns mosteiros e igrejas foram queimados.

Em meio à anarquia que caracterizava o movimento, surgiu Guillaume Cale, um homem da Picardia com carisma e capacidade de liderança suficiente para influenciar os seus pares. Cale organizou um conselho e procurou estabelecer uma hierarquia militar nas hordas de camponeses, organizando a logística e formando batalhões militares. Adoptou ainda o grito de guerra Montjoie et St. Denis!, o grito do rei, para realçar o facto de que os Jacques não estavam contra a casa real, mas sim contra os nobres. Cale conseguiu ainda o apoio de várias cidades para a causa e a simpatia de vários sectores da burguesia, sendo que alguns artesãos e comerciantes se juntaram à causa. Dentre os apoiantes da revolta estava Etienne Marcel, preboste dos mercadores de Paris e líder da oposição ao partido realista do Delfim Carlos.

Apesar do comando de Guillaume Cale e seus capitães, a massa de camponeses em revolta não estava unificada em torno de nenhum ideal comum, além do desagrado. É incerto se entre os líderes da revolta havia planos para uma mudança fundamental na organização política.

A 9 de Junho, uma horda de aproximadamente 9.000 camponeses dirigiu-se à cidade de Meaux, onde se encontrava a família real - o Delfim, sua mulher Joana de Bourbon e as filhas do casal, além de inúmeras senhoras nobres que haviam procurado protecção junto do regente. Os dois líderes da cidade juraram "defender a honra" das damas presentes (ou seja, impedir que fossem estupradas pelos camponeses) mas não conseguiram oferecer resistência à ocupação da cidade. A situação tornava-se mais desesperadora a cada dia e nem Cale tinha controlo sobre os seus homens.

É nesta altura que surgem João III de Grailly, Captal de Buch, e Gastão Febus, conde de Foix, dois cavaleiros regressados de uma campanha na Prússia. Nenhum dos dois homens devia lealdade à casa de Valois, mas a ideia de inúmeras damas em perigo de estupro foi suficiente para entusiasmar-lhes o espírito cavalheiresco e fazê-los rumar para Meaux com os seus exércitos.

Buch e Foix entraram na cidade com 120 homens e ocuparam a ponte que conduzia à cidadela. Os camponeses tentaram forçar a entrada, mas a ponte impedia que fizessem uso da sua enorme superioridade numérica. O resultado foi a morte de centenas de Jacques e um dia de glória para os cavaleiros defensores. O evento motivou ainda o início de uma resposta concertada da nobreza contra a Jacquerie. Em breve foi pedida ajuda militar aos condados vizinhos da Flandres e Hainaut e ao Ducado de Brabante.

Dentre os nobres que responderam à chamada para dominar a Jacquerie encontrava-se o Rei Carlos II de Navarra, um homem conflituoso e envolvido durante anos em confrontos diplomáticos com a coroa de França. A Carlos II interessava resolver a situação, não só porque isto lhe traria dividendos políticos, mas porque era conde de Évreux, um dos territórios atingidos.

A 10 de Junho, o exército de Carlos II aproximou-se dos Jacques. Cale, que comandava os camponeses, ordenou-lhes a retirada para Paris, mas não foi obedecido. Os dois exércitos encontraram-se em Clermont. Então, Cale ordenou formação para batalha, organizando as suas tropas em três batalhões e dispondo os arqueiros em posição defensiva. Surpreendido pela resistência organizada, Carlos II decidiu mudar de táctica e convidou Cale para negociações. O líder camponês aceitou, pensando que seria tratado com o respeito que o ideal cavalheiresco concedia a um inimigo. Mas, para Carlos II, Cale era apenas um camponês e como tal não lhe eram alicáveis os princípios de honra. Guillaume Cale foi preso e executado e seus homens perseguidos e massacrados.

Ao mesmo tempo, no Norte, os Jacques foram dominados pelo exército de Enguerrand VII de Coucy. A 24 de Junho, mais de 20,000 camponeses haviam sido mortos e a região estava devastada.

Consequências

Depois da peste, da fome e do banditismo que já assolavam a região, a repressão da Jacquerie foi um fator adicional de agravamento do problema demográfico. Os campos férteis do Norte de França perderam ainda mais trabalhadores, o que resultou em mais fome e pobreza.

A classe camponesa não foi a única afectada: sem homens para trabalhar as suas terras, os próprios nobres acabariam por perder muito do seu rendimento. Em Paris, a liderança de Etienne Marcel ficou seriamente comprometida pelo seu apoio à revolta. O preboste acabou assassinado pouco tempo depois, o que consolidou a posição do Delfim como líder nacional.

O poder senhorial endureceu e nenhum outro movimento surgiu em decorrência da Jacquerie. "A monarquia estava com a campo aberto para se tornar absoluta. Logo após ser coroado, Carlos V inicia a construção da Bastilha.

HISTÓRIA DA ÁFRICA

1 - A origem africana do homem

Yves Coppens, professor do College de France, em entrevista à revista L’Historie, afirma categoricamente que não existem mais dúvidas sobre a origem africana dos seres humanos.

“Sabemos que temos os mesmos ancestrais diretos que os chimpanzés e os gorilas e que esses ancestrais viveram na África por volta de 10 milhões de anos” afirmou ele.

Prosseguindo, disse que foi na África “que se encontraram os primeiros espécimes do gênero Homo, aproximadamente há 2,6 milhões de anos, indivíduos bípedes, dotados de um cérebro mais de duas vezes maior que de um chimpanzé e dentes onívoro. Foi igualmente na África que apareceram, um pouco depois, os utensílios fabricados, testemunhas da consciência desenvolvida e primeiros sinais de uma evolução cultural”.

2 - A evolução da língua

Princípios da Idade da Pedra

Fins da Idade da Pedra

Idade do Ferro

Até há 50.000 anos

Até há 2.000 anos

Propagação e multiplicação até 1.900 d. C.

4 línguas mães

1.250.000 pessoas

37 línguas principais

3 a 4 milhões de pessoas

730 línguas

150 milhões de pessoas

3- Homens modernos têm ancestral negro

O ancestral do homem moderno era o negro e saiu da África há 100 mil anos, concluíram cientistas ingleses e americanos que detectaram traços dos seus genes no DNA (material genético) do homem atual.

A pesquisa feita por geneticistas dos EUA e da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, indica que toda a humanidade descende de uma tribo de cerca de 10 mil pessoas, segundo matéria do Jornal inglês Independent de 23 de Nov. de 1995.

Algumas famílias desta tribo emigraram da África acerca de 100 mil anos atrás. Eles não foram os primeiros hominídeos a sair da áfrica. Depois que os primeiros hominídeos evoluíram, separando-se do tronco comum com gorilas e chimpanzés, há mais ou menos cinco milhões de anos, parte de seus descendentes migrou para a Ásia e a Europa. Esses migrantes teriam originado, por exemplo. O homem de Java e o homem de Pequim. Mas de acordo com este novo estudo, aparentemente estes homens primitivos não deixaram descendentes. Só um pequeno grupo evoluiu separando-se das linhagens arcaicas para dar origem ao Homo sapiens, o homem moderno. Os descendentes desta tribo primitiva iniciaram uma série de migrações há 100 mil anos para conquistar o Planeta.

4 – A ocupação do continente africano

[...] Embora só cerca de 125 000 pessoas habitassem o continente há cem anos, segundo cálculos recentes, este número era provavelmente superior ao da população de qualquer outro continente. Por outras palavras, tinham ido mais longe na conquista do meio que os rodeava. Na arte final da Idade da Pedra, já se teriam multiplicado atingindo os três ou quatro milhões.

Pertenciam a vários tipos indígenas. Alguns dos seus descendentes que ainda sobrevivem incluem os Pigmeus das florestas do Congo e os Boxímanos dos desertos do Sudoeste. Estes “povos pequenos” eram muito mais numerosos então do que nos nossos dias. [...] Outros tipos, aparentados, incluíam os antepassados dos Khoi (“Hottentots”) do Sul da África; os predecessores dos robustos e escuros “Negroes” da África Ocidental e Central; e ainda aqueles que descendiam de uma mistura de povos indígenas como os vizinhos asiáticos, no Norte e Nordeste, que possivelmente ocorreu ainda em meados da Idade da Pedra.

Estes povos ancestrais desenvolveram-se através de casamentos mistos. E misturaram-se a tal ponto que hoje é praticamente impossível, através de análises de sangue, “encontrar diferenças genéticas claras, mesmo entre os grupos morfologicamente tão diversos como os Boxímanos, os Pigmeus e os Negroes”. Confundiram-se e deslocaram-se pelo continente, povoando-o pouco a pouco. A mais importante destas migrações foi a dos “Negroes”, dos quais as famílias dos povos, de língua banta, originalmente vindos do Oeste africano, há pelo menos três mil anos, desde há muito dominam a Sul do Equador.

5 – As primeiras culturas africanas

Continente rico em áreas inóspitas e de difícil penetração, a África sempre impôs aos grupos humanos nela radicados uma verdadeira luta ela sobrevivência, impossibilitando muita vezes sua fixação. Superando, porém, as dificuldades apresentadas elo meio ambiente – entre as quais se destacavam as de ordem climática – os africanos conseguiram encontrar soluções práticas para seus problemas. Assim, evoluíram da Idade da Pedra até um estágio de civilização caracterizado pelo uso dos metais, inventaram sistemas de trabalhar a terra e colher alimentos, e criaram formas originais de organização social e política.

Embora seja arqueologicamente menos explorado do que a Europa, o continente é extremamente rico em fósseis, sobretudo de primatas. Suas regiões mais estudadas pelos arqueólogos são a mediterrânea, a subsaariana e a oriental, além dos territórios do sul e do norte do Sudão. Em outras áreas, entretanto, como o Congo, a Angola e a Rodésia, a pré-histórias das populações negras continua desconhecida.

A pré-história africana foi marcada por dois fatos relevantes: o aumento progressivo da região desértica do Saara e o aparecimento de grupos étnicos negros. O Saara não foi sempre um deserto. A cerca de dez mil anos era uma região cruzada por cursos de água e coberta de vegetação, com densas florestas recobrindo os montes de Hoggar, hoje totalmente áridos. Na Idade da Pedra, desenvolveram-se nessa região algumas das mais antigas formas de civilização. As pinturas rupestres dos montes Tassili, por exemplo, são alusivas a populações de caçadores e pastores que viviam na área em épocas remotas. (História das Civilizações. São Paulo; Abril Cultural, 1975, p.34)

6 – A África é o berço da inteligência humana

A cultura humana nasceu muito antes do que imaginávamos. E na África – não na Europa, como pensavam os estudiosos. Há 77 mil anos, os ancestrais do homem já eram capazes de fazer arte e pensar de forma abstrata. Prova disso são duas barras de argila colorida com desenhos geométricos encontradas no sitio arqueológico de Blombos, a 290 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2004. As descobertas foram feitas pela equipe do antropólogo americano Christopher Henshilwood, da Universidade de Nova York. “A presença de objetos entalhados de gravuras significa que as habilidades de aprendizagem e capacidade para o pensamento abstrato estavam presentes entre aqueles homens”, diz. “Essa aptidão para o armazenamento de informações fora do cérebro humano é entendida como cultura, como inteligência”.

Os novos achados refutam a teoria de que o despertar da cultura humana teria ocorrido na Europa, conforme sugeriam pinturas rupestres encontradas em grutas na França [...] [e] na Espanha [...] – todos esses desenhos encontrados na Europa não têm mais do que 35 mil anos.

7 - A diversidade cultural e geográfica da África

A África é tão pouco uniforme cultural quanto geograficamente. Os africanos não são uma raça de “pretos primitivos” nem é a África um continente sem uma velha história, como ainda se pensa geralmente. [...] São marcantes suas diferenças culturais, étnicas e lingüísticas. Seu espaço, embora não raro obscuro, é a crônica de um isolamento. Desde o tempo dos primeiros hominídeos, que viveram há um milhão de anos do desfiladeiro de Olduvai, a África desempenhou importante papel na história da humanidade. [...]

O que hoje normalmente denominamos arte negra ou africana não se espalhou por todo o comprimento e largura do continente, mas floresceu em larga zona, habitada principalmente por povos agrícolas de origem basicamente bantos, e que se entende desde a Guiné, no Oeste, até Catanga, no Sudeste. Em outras palavras, a grande arte africana encontra-se exclusivamente nas bacias fluviais do Níger e do Congo.

[...] O mais primitivo grupo de pinturas é, provavelmente, o das figuras humanas de cabeças arredondadas, de forma quase irreconhecível, datável de princípios da Era Neolítica, por volta de 8000 a.C. [...]

O grupo seguinte de pinturas começa a surgir por volta do quinto milênio antes de Cristo, e coincide com a chegada de varias levadas de pastores originários do leste, talvez do Alto Nilo. As pinturas rupestres representam gado em grandes quantidades e demonstram que os primeiros pastores trouxeram carneiros e cabras, seguidos, mais tarde, por grandes rebanhos bovinos. [...]

[...] a escultura é extremamente uniforme e confinada a áreas em que a população se dedica à agricultura organizada. Evoluiu exclusivamente do culto aos antepassados.

[...] Suas imagens representam os antepassados, as máscaras, os espíritos dos ancestrais mortos, que através delas falam à presente geração, e em sua arte decorativa ambos esses motivos são empregados em profusão.

8 - Civilizações Africanas

Afora o Egito, cuja história é mais conhecida, centenas de outros povos habitaram o continente africano no período que corresponde à chamada Idade Antiga. Ao Sul do Egito, estabeleceu-se o reino de Cush, com a capital em Méroé. Sabe-se que, no século VIII a.C., esse reino chegou a dominar o Egito por cerca de 80 anos. Existem ruínas de palácios, templos e pirâmides construídos pelo povo cushita, que também possuía uma escrita própria.

Na África Mediterrânea, houve influências de vários povos. Os fenícios fundaram Cartago. Vizinho aos cartagineses estava o reino da Numídia, que, inclusive, se aliou aos romanos para destruir Cartago. Contudo, tanto a Numídia quanto a Mauritânia, a Tripolitânia e a Cirenaica foram anexadas pelos romanos.

9 – As relações entre o povo egípcio e o rio Nilo

Até recentemente, a única região africana que era estudada no período tradicionalmente conhecido como Idade Antiga era o Egito. Curiosamente este país era associado a Ásia do que a África propriamente dita. O Egito fazia parte do chamado “Crescente Fértil”, que englobava, ainda, regiões do Oriente Próximo.

O Egito era uma estreita faixa de terra que margeava o rio Nilo em toda a sua extensão. Como o Nilo na tem afluentes, apenas em suas margens era possível a sobrevivência da população, que se aproveitava do regime de chuvas e das cheias do rio, garantindo a fertilização de um território de 20 quilômetros de largura até o delta, quando então a área fertilizada alcançava 150 quilômetros.

O período histórico conhecido como “Egito Antigo” teve inicio por volta de 4000 a.C. e terminou no século I de nossa era, quando todo o território foi dominado pelos romanos.

Por volta de 3000 a.C., as aldeias (nomos) em que a população vivia foram unificadas, sob o governo de um soberano, o Faraó, que inaugurou o período conhecido como Antigo Império, de quase mil anos de duração. Nessa época em que foram construídas as grandes pirâmides que ainda hoje causam admiração. Foi também o momento em que a agricultura experimentou um grande desenvolvimento.

De 2052 a.C. 1570, temos o Médio Império. A capital era a cidade de Tebas, o poder real se fortaleceu, mas, no final, o Egito foi invadido e dominado pelo povo hicso.

A expulsão dos hicsos, assinalou o inicio do Novo Império, marcado por um aumento da militarização, visando garantir as defesas do país. As incursões levaram as tropas egípcias até a Ásia, mas o fim do isolamento que sempre caracterizara a política egípcia acabou sendo fatal, e os egípcios foram dominados seguidamente por assírios, persas, macedônicos e, finalmente pelos romanos.

10 – Caminhos e fronteiras do Egito antigo

O continente africano construiu o berço de uma das mais antigas civilizações do mundo, mas o Egito ignorou, ao que parece, a existências de povos radicados para além do Saara. Embora nas origens de sua história, por volta do IV milênio a.C., a desertificação não fosse, sem dúvida, tão completa como hoje, os sítios com água eram mais numerosos, a fauna ainda abundante – nada permite afirmar que esta barreira alguma vez tivesse sido transposta.

No entanto, seria um erro pensar que o Egito se desinteressou do continente e dirigiu as suas atenções exclusivamente para o mundo mediterrânico: é claro que os faraós tiveram a preocupação constante de proteger a sua fronteira mais vulnerável, a do nordeste: mantendo sempre os olhos fixos no Sinai e, mais longe ainda, na Síria e na Palestina, esforçaram-se por conservar o domínio da passagem-chave do istmo do Suez, rota das migrações e das invasões.

Mas a penetração em direção ao Sul, à Núbia e à Etiópia, foi outra constante da sua história: desde o III milênio que as minas de ouro da Núbia e as madeiras africanas lhe despertaram a cobiça; a partir de 1952 a.C., Sesóstris I, o grande responsável pela expansão do Império Médio, estendeu o seu domínio aos povos negroides de Cush, aos quais impôs o pagamento de um tributo. As trocas econômicas e culturais nunca mais cessaram desde então; uma série de inscrições rupestres e um grande número de crônicas de reis ou de personagens importantes que os rodeavam permitem apreciar a amplitude deste “imperialismo” que, aliás, nem sempre se exerceu no mesmo sentido: a dinastia cushita de Napata, aproveitando a decadência do Império, conseguiu, por sua vez, no século VIII a.C. dominar o Egito inteiro, dando origem a XXV dinastia.

11 – Reinos e impérios

Na zona alta do Nilo nasceu o reino de Cush. Embora fosse província do Egito durante determinados períodos, desenvolveu-se como entidade separada com uma cultura distinta própria. No século VIII a.C., os reis cushitas conquistaram o Egito e o governaram-no durante 80 anos. Mais tarde, o país sobreviveu como reino separado, próspero, como resultado de seu comércio de frutos tropicais e da exploração de recursos de ferro, com a capital fixada na capital Méroé. Construíram-se templos, pirâmides para uso funerário e palácios, cujo estilo derivava do egípcio, mas com um selo distintivo meroítico. Criou-se também uma escrita meroítica, distintas dos hieroglifos egípcios. No século IV da nossa era, esse reino foi destruído provavelmente por obra dos povos núbios vizinhos, convertidos ao Cristianismo por missionários procedentes de Constantinopla.

No resto da África mediterrânica, o estimulo organizador procedia do exterior. Os fenícios fundaram a República Cartaginesa, que estimulou os seus vizinhos a formarem reinos rivais no interior, como Numídia (que corresponderia aproximadamente à Árgelia moderna) e a Mauritânia (que coincidiu mais ou menos com o Marrocos atual). Os Númidas, aliados dos romanos, destruíram Cartago. Finalmente, ambos os reinos foram anexados pelo Império Romano. Este anexou também a Tripolitânia costeira e a Cineraica, colônias gregas, embora no seu hinterland, nas terras hoje ocupadas pelo deserto, o reino africano de Garama manteve a sua independência.

12- Nossos ancestrais africanos

A primeira pergunta é: de onde vieram nossos ancestrais africanos? E a resposta: a grande maioria veio da chamada África Ocidental e Centro-Ocidental – aqui denominada “Atlântica”. Rasgada por imensos rios, a plataforma rígida formada por uma série de planaltos parece – como disse um historiador – uma “cidadela solitária e hostil. Raras fendas, abertas na bruta fortaleza, permitem entrar-lhe no recinto”.

A história desta região, que vai do Senegal a Angola, revela a presença de povos, desde há muito, conhecedores da agricultura e do ferro. Pertencentes aos milenares troncos lingüísticos nígero-congolês ou banto, sua organização social ficou marcada por uma luta feroz contra a natureza hostil. Ampliar as sociedades, humanizar a terra e lutar contra um clima impiedoso foi tarefa que, desde a Antiguidade empurrou colonos para as savanas em busca de melhores condições de vida.

A crescente desertificação do Saara, assim como o árduo desflorestamento de áreas ao sul do deserto, convidava grupos a se estabelecerem, embora de forma dispersa, em planícies inundáveis e sobre pequenas colinas.

A escolha de tais lugares não era aleatória. Estas eram regiões facilmente defensáveis contra ataques de feras ou gente inimiga.

13 - O olhar grego sobre a África

Heródoto, em sua História, deixou registrada sua impressão acerca dos africanos, em um misto de estranhamento, admiração e desqualificação. Em sua lógica descritiva ele afirmava que “os homens daquelas regiões são negros por causa do calor” e os “etíopes da Líbia são entre todos os homens os de cabelos mais crespos” (Heródoto, 1988: 95, 361).

A relação entre a cor e clima, associada à ênfase no tipo de cabelos revela o impacto que a diferença de fenótipos entre os europeus e os africanos causava ao estrangeiro. Além disso, afirma o historiador que “o sêmen por eles ejaculado quando se unem as mulheres também não é branco [...], e sim negro como sua tez (acontece o mesmo com o sêmen dos etíopes)” (ibidem: 182).

Em seus comentários também encontramos elogios aos etíopes, já que estes seriam “homens de elevada estatura e muito belos e de uma longevidade excepcional”, na descrição geográfica da região viajante grego acredita ser a Etiópia “a mais remota das regiões habitadas; lá existe muito ouro e há enormes elefantes, e as árvores são silvestres, e ébano [...]” (ibidem: 185-6).

Porém, não só de curiosidades se constituem seus escritos. Em outros trechos fica evidente a inferioridade dos etíopes perante os gregos e os egípcios, já que eles eram bárbaros - sem civilização – e identificados como trogloditas.

“Esses soldados, estabelecendo-se na Etiópia, contribuíram para civilizar os etíopes, ensinando-lhes os costumes egípcios.” (ibidem: 98.)

“Esses garamantes saem com seus carros quatro cavalos à caça de trogloditas etíopes, pois os trogloditas são os corredores mais rápidos sobre os quais já ouvimos contar histórias. Esses trogloditas se alimentam de serpentes, de lagartos e de répteis do mesmo gênero; eles não falam uma linguagem parecida com qualquer outra, e emitem gritos agudos como os dos morcegos” (ibidem: 250).

14 – Principais reinos africanos do século V ao século XV

No período que se estende do século V ao XV, que na História européia é conhecido como Idade Média, os reinos africanos, especialmente aqueles situados ao sul do Saara, continuaram a se desenvolver, mantendo poucas relações com os europeus. Sabe-se que houve intensa penetração do Cristianismo em algumas regiões.

E, no norte, nas regiões que outrora haviam sido incorporadas ao Império Romano, o islamismo se fez presente a partir da expansão dos árabes, que dominaram todo aquele território antes de invadir e de dominar a península Ibérica.

O reino de Cush entrou em decadência, por volta do século IV, e foi dominado pelo de Aksum. Acredita-se que os habitantes de Aksum se originaram da Arábia meridional e atingiram o local por volta de 2500 a.C.

Portavam técnicas agrícolas, conheciam a metalurgia do ferro e já possuíam uma escrita.

“Assim que se lançaram em campanha contra Méroé, os reis de Aksum estavam já cristianizados e as relações comerciais entre sua região, o Egito romano e o oceano Índico haviam possibilitado uma relativa prosperidade. O reino de Aksum, precursor do reino da Etiópia, se perpetuou até o século VIII. Durante o processo de decadência da cultura meroítica (séculos IV e V) e da expansão do reino de Aksum, o Cristianismo penetrou no Sudão. Por volta do ano 600, os soberanos, e boa parte de seus habitantes já eram cristãos.”

15 – A África não teve uma “Idade Média”

Com base nos estudos históricos ate agora desenvolvidos sobre a África subsaariana, o período que vai do século VII ao século XVI caracteriza-se, na maior parte do território, pelo desabrochar de várias civilizações. Daí que o termo “Idade Média”, que se reveste de uma conotação própria na história européia, não possa aqui aplicar-se com o mesmo sentido. Mesmo os dois marcos temporais que a delimitam (600 a 1492) são aqui problemáticos. O primeiro não corresponde a qualquer fato histórico digno de relevo, pois o islamismo só penetrou realmente na região entre os séculos VIII e X. Nem o ano de 1492 tem qualquer significado para a África, que testemunhou a chegada das primeiras expedições portuguesas em meados do século XV e se abriu a estes no decorrer no decorrer deste mesmo século. Exceção feita à costa oriental, a história do continente africano desenrola-se com maior protagonismo das regiões do interior do que no litoral.

16 - O Império Árabe na África

No ano de 639, os primeiros árabes muçulmanos entraram no Egito. No começo do século seguinte haviam atravessado toda a África, a norte do Saara, e invadiram a Europa meridional. A norte da África se separara da influencia mediterrânica dos mil e quinhentos anos precedentes de sua história e, no espaço de uns poucos séculos, seus povos passaram a ser uma sólida parte do novo mundo e cultura do Islã. Esta primeira onda de invasão árabe não atravessou o Saara; os árabes não começaram a penetrar no deserto, pelo leste, até depois da queda do reino cristão núbio de Dongola, no século XVI. Pelo oeste do Saara não começaram a introduzir-se, em quantidade considerável, antes do século XII aproximadamente, e o Sudão ocidental jamais foi seu. Mas se o Saara foi um certo obstáculo à mencionada conquista a religião e a cultura dos árabes se estenderam eficazmente, desde a firme base estabelecida na África do Norte até zonas muito profundas do território negro, de forma que todo Sudão chegou a ser circunstancialmente parte do mundo islâmico.

17 – Vândalos e bizantinos no norte da África

Ammar Mahjoubi, que escreveu diversos capítulos da História da humanidade publicada pela Unesco, ressalta que, no inicio do período denominado Idade Média na historiografia europeia, os vândalos e os bizantinos ocuparam arte da África do Norte, territórios que haviam integrado o antigo Império Romano.

Os vândalos, apesar de uma presença avassaladora inicial, terminaram por se fundir com a população romano-africana, sem deixar maiores contribuições. Até mesmo a língua não recebeu nenhuma contribuição dos vândalos.

Já com relação aos bizantinos, observa ele que o imperador Justiniano, que tinha a pretensão de recuperar o território do antigo Império Romano, enviou tropas ao continente africano para lutar contra os vândalos, e ao mesmo tempo, assegurar o domínio de uma região rica em cereais. Mesmo com a construção de numerosas fortalezas, o objetivo dos bizantinos foi alcançado apenas por breve tempo. A partir do século VIII a presença dos árabes acabou por se tornar dominante na África do Norte.

18 – O sistema familiar matrilinear

Apesar das enormes diversidades encontradas nas comunidade africanas, verifica-se a existência de um aspecto bastante comum: o sistema familiar matrilinear.

Essa estrutura social, tão importante para definir o eminente papel da mulher na comunidade, comportava igualmente consequências econômicas, políticas e espirituais, uma vê que ela desempenhava um papel marcante tanto na herança de bens materiais como dos direitos à sucessão real, a exemplo do que ocorria em Gana. O parentesco uterino parece ter saído das profundezas da Pré-História africana, do momento em que a sedentarizarão do Neolítico tinha exaltado as funções domésticas da mulher, a ponto de torná-las o elemento central do corpo social.

19 – Vida Política

O estudo das estruturas políticas dos povos africanos, no período que se estende do século V ao XV, é complexo, devido à extraordinária diversidade que os estudiosos observam.

Os estudiosos distinguem, de um modo bem geral, três tipos de organização política em que se poderiam enquadrar as sociedades africanas: as anarquias, as chefaturas e as hegemonias.

Anarquias são estruturas sociais sem comando político central, obedecendo somente a costumes sancionados apenas pela religião ou pela moral. [...]

“Este tipo de governo de aldeia, que por vezes se alargava a um cacho de aldeias vizinhas, era generalizado em África. No seu tempo e no seu lugar foi estável e eficiente. Significava que o poder político estava dividido entre muitos chefes e que aqueles que governavam nunca podiam tornar distantes ou ditatoriais. Exprimia uma forte crença africana na igualdade humana, na necessidade de respeitar os direitos de outros povos e no dever de todos os homens e mulheres, rapazes ou moças, trabalharem para o bem da comunidade em que viviam.” [...]

A chefatura inicia-se quando a família com maior prestígio estende sua autoridade sobre os demais. [...] A autoridade de chefe, sublinhe-se, não é absoluta: “permanece equilibrada pelas famílias e associações, mas tende a desenvolver seus poderes”. [...]

Em dado momento histórico as hegemonias (estados, reinos e impérios) se sobrepõem às chefaturas, trazendo consigo uma hierarquia administrativa, um fisco e um exército. [...]

Sem aprofundar o assunto, parece-nos que a emergência dos estados africanos relaciona-se principalmente com fatores de ordem religiosa, de ordem econômica e de ordem política.

20 – O Cristianismo e o Islamismo na África

A religião africana afirma a vida e tem pouco de ascética. Os seus valores tem máximos são a harmonia e a unidade dentro da família e do clã, assim como em relação com os vivos-mortos e os espíritos. É essencialmente comunitária, não individual, circunstância que fez com que os africanos cristianizados ou islamizados tenham transferidos esses valores para sua nova fé. [...]

As origens do cristianismo no Egito perdem-se na noite dos tempos, apesar de se saber no século II havia no país uma igreja poderosa. Esta Igreja espalhou sua influência por todo o Norte da África, com Alexandria e Cartago (próximo da atual Tunis) como centros de irradiação cristã. A Igreja produziu ali sábios e mártires.

O cristianismo empreendeu também o caminho para o sul ao longo do Nilo e chegou até as terras altas da Etiópia. Nos reinos da Núbia floresceram igrejas cristãs que sobreviveram até o século XII. No Egito, as invasões árabes-muçulmanas do século XII reduziram o número de cristãos, apesar de a igreja copta ter sobrevivido até aos nossos dias. No resto do Norte da África desapareceram por completo as antigas igrejas.

O cristianismo sobreviveu também na Etiópia, reunido à volta das igrejas egípcia e siríaca, e desenvolveu estilos artísticos distintos, assim como a liturgia peculiar com danças e acompanhamento de tambores, sinais [...] de adaptação cultural.

O Islão, tal como o cristianismo, penetrou em áfrica pouco depois de seu nascimento. [...] Já nos anos 640, oito anos depois da morte de Maomé, alguns dos seus seguidores árabes iniciaram a conquista do Egito. Os primeiros muçulmanos não chegaram como missionários, mas como soldados e colonos e, devido ao opressivo governo de Bizâncio, muitas vezes foram acolhidos como libertadores. Apesar de alguns pensarem o contrário, não impuseram a sua religião a população local e mostraram-se particularmente tolerantes com os judeus e os cristãos, “gentes do Livro”, que não eram idólatras. [...]

Depois da conquista árabe do Egito, os Islão propagou-se lentamente entre os habitantes da costa e do interior do Norte da África. Finalmente, deixando de parte o resíduo copta do Egito, a África Setentrional islamizou-se profundamente no que diz respeito à religião, à cultura e ao direito. O Islão foi adotado como religião estatal e assim continua na atualidade.

Numa segunda fase, o Islão difundiu-se através do Saara e penetrou no ocidente africano e, subindo o rio Nilo, no Sudão [...]

O Islão também se deslocou pela costa oriental, levado por navegantes árabes, alguns dos quais fundaram cidades na costa ou se estabeleceram nelas. Houve aqui também uma população local urbanizada que se tornou muçulmana.